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Sem legenda

Conhece alguém com pós-graduação e sem um segundo idioma? Conheço muitos assim, gente que só entende inglês com legenda. Erraram na prioridade. Antes até da pós-graduação, saber outro idioma é condição para se obter uma boa colocação.

Quem vai contratar alguém com MBA que não sabe traduzir "Master in Business Administration"? Isso só para falar do inglês que é para o mundo ver. Tem ainda o espanhol dos hermanos ao lado e o mandarim que chinês falava para vender pastel e hoje fala para vender até quibe para libanês.

Na Inglaterra já tem até escola fazendo do mandarim matéria obrigatória, enquanto a China caminha para se transformar na maior população falando inglês fora do império onde o sol nunca se põe. Shakespeare podia até aceitar que Julieta fosse interpretada por um homem no teatro da época, mas dificilmente engoliria isso.

Em 1972 comecei — e nunca mais parei — a aprender inglês graças a um programa que enviava jovens para estudar nos EUA e trazer calças Lee para parentes e amigos. Fui, mesmo sendo zero à esquerda em inglês. O programa era assim, você pagava, fazia um exame rigoroso para provar que sabia inglês e, se o cheque não voltasse, estava aprovado.

Quando cheguei lá procurei a legenda nos pés dos americanos e não encontrei. Como o espanhol ainda não era o idioma predominante lá, entrei em pânico. Passei a responder "Yes" ou "No" aleatoriamente para tudo que fosse parecido com pergunta e, dependendo da cara que a pessoa fazia, eu trocava "Yes" por "No" e vice-versa. E fui levando.

Meu maior vexame pedir para ir ao banheiro durante a aula. Achava que era só levantar a mão e dizer "WC", que era o que aparecia escrito nas portas daqui. Já tentou pronunciar "W" em inglês? A aula parou e passei uma eternidade tentando explicar para a professora o que eu queria fazer sem apelar para a linguagem corporal. Enquanto a classe ria a bexiga sofria.

Como detestava gramática decidi aprender inglês imitando. Até ganhei um concurso com uma poesia publicada no "1972 Anthology of Selected High School Essays". Voltei fluente no idioma e virei intérprete e tradutor. Em 1978 traduzi o primeiro livro, de graça, quando ainda era universitário.

O livro era sobre parto natural, publicado por uma comunidade hippie em Nashville. Felizmente a editora preferiu publicar a tradução de outro voluntário que era médico e conhecia melhor o vocabulário. Com minha pouca experiência existia o risco de alguma leitora-mãe jogar fora o bebê e criar a placenta.

Desde então traduzi vários artigos e livros, mas continuo aprendendo, porque no aprendizado não existe ponto final. "Desconfio do tradutor que se gaba de transportar qualquer texto de uma língua para outra à primeira vista, com facilidade igual, sem jamais recorrer aos dicionários. O máximo que ele deve aspirar não é saber de cor uma língua estrangeira (pois nunca se chega a conhecer a fundo nem sequer a materna) e sim a adquirir um sexto sentido, uma espécie de faro, que o advirta de estar na presença de uma acepção desconhecida de uma palavra, ou então de uma locução de elementos inseparáveis intraduzível ao pé da letra, idiomatismos que fazem parte do lastro de ouro de uma língua estrangeira", escreveu Paulo Rónai no livro "A Tradução Vivida".

A segunda coisa que aprendi nos EUA e me ajuda até hoje é digitação. Na época o nome era datilografia, praticada em um aparelho chamado "máquina de escrever", uma espécie de processador de textos com monitor de papel. Os mais velhos conhecem.

Como aconteceu com o inglês, saí de lá sem ter aprendido tudo de datilografia. Teclas de acentos, porque lá não existiam, e números, porque faltei à aula. Por isso até hoje olho para o teclado na hora de digitá-los. Mas pelo menos sei o que quer dizer MBA e não preciso olhar nos pés de quem fala inglês para procurar pela legenda.

Eu em aula de datilografia na McAuley High em Joplin, MO, 1972.



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E a gorjeta, doutor?

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