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Regime para emagrecer empresas

Ninguém esperava por uma freada assim. Caminhoneiro diria que serviu para assentar a carga. Eu perguntaria se ainda há carga. A ordem é reduzir despesas nas empresas, buzinam os grandes nomes da consultoria. E cobram bem para buzinar. Como a gordura já fora eliminada na lipoaspiração de downsizings anteriores, o negócio é raspar o osso. Algo difícil de roer.

A culpa da retração não está na Somália nem no Gabão. Está na América, que engordou demais. Agora os americanos decidiram parar de comer peru e nós pagamos o pato. Como acontece em casa de madame, quando a patroa faz regime quem emagrece é a empregada. O lado positivo é que abrimos menos a geladeira e economizamos energia.

A economia é tanta que até Coca aparece pela metade no outdoor. A moda agora é beber empresa light. Eliminando calorias e mão de obra. Mas quem falou em desemprego? Não existe mais isso. Nem emprego, nem desemprego. Tudo isso acabou, depois que inventaram a economia informal.

Nas grandes corporações há cada vez menos gente trabalhando mais para produzir muito. Do lado de fora, pequenas empresas e profissionais liberais desfrutam da liberdade de poder escolher quando e onde devem trabalhar. Ou seja, sempre e em qualquer lugar.

Como é a criatividade o néctar vital à sobrevivência de quem não é operária, a colméia informal é formada quase que exclusivamente por férteis rainhas. Mandaram às favas a ilusória segurança do emprego vitalício para habitar nos favos da Internet. Ali zunem em listas de discussão, formam comunidades como a www.WideBiz.com.br, e adoçam parcerias e estratégias do tipo eu-quebro-o-seu-galho-e-você-quebra-o-meu.

Fora do guarda-sol protetor e promovedor de uma grande marca, o profissional em vôo solo descobre a importância de criar sua marca pessoal. Vira ator. Já não trabalha numa companhia de produção seriada, mas atua num filme de cada vez. O que perde em regalia ganha em desenvolvimento pessoal, pois precisará manter a imagem polida no aprendizado, se quiser brilhar.

Talvez esteja aí o segredo dos profissionais liberais que vivem motivados e são contratados para motivar. Já não se sentem meros e anônimos figurantes de uma superprodução, mas estrelas de produções mais independentes. Descobriram que o mundo dos negócios não é feito só de Julia Roberts. Também é possível vencer sendo a Bruxa de Blair.

As mulheres parecem se virar melhor neste universo paralelo. Sua natureza é de resolver problemas, não de correr atrás de títulos de CEO daqui ou doutor dali. São menos propensas a consumir títulos anabolizantes do ego para exibir uma musculatura de poder. Além disso, elas já nascem multitarefa. Conseguem executar várias atividades simultâneas com a concentração de quem parece imune a decibéis de queixas e choros infantis.

Mas talvez a maior qualidade das mulheres seja a intuição. O mundo dos negócios se assemelha cada vez mais ao caos de um lar cheio de filhos pequenos. Imprevisível como o vômito do bebê, que elas resolvem sem perder a graça. Enquanto os homens tentam se ancorar na lógica dos fatos e dos números, as mulheres usam a bússola da intuição para voar numa estratosfera de ventos caóticos. Sem perder o rumo ou o rebolado nas freadas bruscas. Porque elas ocorrem quando menos se espera.

Aconteceu com um amigo. Quando terminamos o curso de piloto privado, ele decidiu seguir carreira. Mas seu primeiro vôo como co-piloto de um bimotor de passageiros quase acaba em tragédia. Estava tão tenso que o piloto tentou distraí-lo mostrando a paisagem. Apontou para um trem que passava lá embaixo e comentou: "Olha o trem". O co-piloto não titubeou. Baixou na hora o trem de pouso da aeronave a mais de quatrocentos quilômetros por hora. Uma freada que quase levou a dentadura do último passageiro a morder a nuca do primeiro.

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