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Dever comprido

Não, eu não errei o título. É "comprido" mesmo, de longo dia de trabalho e da sensação de ter cumprido com seu dever comprido. É dessa armadilha de quem trabalha por conta própria que quero falar. Mas antes um pouco de minha história para você compreender. 

Ainda estudante, fui estagiário trabalhando de graça ou com participação em projetos. Formado em arquitetura, idealismo e macrobiótica, decidi mudar o mundo começando por Alto Paraíso de Goiás. Lá ensinava no ginásio local, enquanto aprendia a fazer partos, socorrer picados de cobra e criar galinhas. Isso quando não estava rachando lenha, plantando verdura ou pilotando carroça. Aquela experiência iria me ajudar a ter uma carreira eclética, eclética e eclética.

Três anos depois voltava à minha cidade para trabalhar de arquiteto em meu próprio escritório. Parece chique e seguro ser arquiteto com escritório próprio, mas aos 27 anos e com dois filhos pequenos para criar, minha experiência com galinhas ensinou-me a não colocar todos os ovos no mesmo cesto.

Enquanto arquiteto (odeio quando alguém diz "enquanto isso" e "enquanto aquilo, mas escrevi aqui só para odiar), eu representava uma empresa de portas e janelas e outra de aquecedores solares. Na década de 80 as pessoas sabiam o que eram portas e janelas, mas falar em aquecedor solar era falar Klingon, a língua alienígena de Jornada nas Estrelas.

Mas espere, tem mais! Sim, este "Espere, tem mais!", típico dos canais que vendem inutilidades domésticas, é bem a cara de minha outra atividade: vender autoclaves caríssimas em chás de madames, popularmente conhecidas por panelas. Não os chás de madames, as autoclaves. À noite e nos finais de semana eu fazia traduções para indústrias.

A ideia de nunca colocar todos os ovos numa mesma cesta é evitar que você acabe jantando omelete. Isto serve também para quem tem emprego fixo com aposentadoria garantida... na Enterprise, trabalhando para o Comandante Kirk. Sim, porque garantia de emprego também é ficção. Você não imagina quantos quarentões me escrevem pedindo dicas de carreira. Perderam o posto de gerente, diretor e até presidente da Enterprise quando Mr. Spock indicou um sobrinho alienígena mais jovem e barato para a posição.

Quando você trabalha por conta própria é importante manter ligado o medidor de viabilidade do negócio, para descobrir qual a taxa de sucesso que seu segmento oferece na prática. Tipo assim: para tantas visitas ou contatos, você consegue fechar tantos negócios e ter um rendimento de tanto. Se esse rendimento não for suficiente, é bom arranjar outras cestas. 

Agora vem o conselho mais importante: Quando você trabalha de empregado, suar a camisa e viver ocupado pode até valer pontos, pois o salário está garantido. Mas quando trabalha por conta própria, o excesso de ocupação - seu "dever comprido" - faz você voltar para casa no fim do dia com a falsa sensação de dever cumprido. Se esteve o dia todo ocupado e voltou com nenhum ou menos dinheiro do que saiu, é melhor analisar sua atividade.

Por exemplo, se você vende sorvete a granel, o trabalho para conquistar um único cliente pode resultar na venda de uma tonelada. Mas, se vender sorvete de palito em carrinho, vai precisar trabalhar uma tonelada de clientes para ganhar a mesma coisa. O ideal é sempre descobrir como fazer mais com menos, e principalmente no lugar certo, pois você pode morar na Groenlândia e lá meu exemplo não funcionar.

Quando pequeno, meu filho não morava na Groenlândia, mas sua professora tratou com extrema frieza sua técnica de gastar menos para fazer mais, transformando um "dever comprido" em um dever mais curto. Acostumado a brincar em um computador com sistema operacional DOS, daqueles em que você usava um asterisco como "coringa" para procurar nomes de arquivos, o garoto levou a maior bronca quando a professora descobriu que as anotações em seu caderno eram mais ou menos assim:

"Em 22 de Abr* de 15*, Ped* Alv* Cab* desc* o Br*".

Lucas Persona

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Será Mesmo Que Você Nasceu Para Ser Empregado?
Maria Giuliese


É no trabalho que investimos o que temos de melhor: tempo, energia, afeto, conhecimento, experiência e esperança de crescimento. Em troca, ele nos oferece um lugar na realidade e na comunidade em que vivemos, bem como um espaço especial para nos expressarmos e evoluirmos. O trabalho, portanto, deveria ser fonte de realização e prazer.

No entanto, nos últimos anos, muitas pessoas têm se sentido infelizes no trabalho que realizam nas empresas. Por que será? Será que o sofrimento está associado apenas a fatores internos de cada ser humano? Ou será que o mundo corporativo está doente? Qual a importância e o espaço que o trabalho vem ocupando em nossas vidas?
Mariá Giuliese, neste livro, compartilha com o leitor suas descobertas e respostas, provenientes de estudos, pesquisas e anos de experiência com profissionais em transição de carreira,e oferece, uma oportunidade única para revisar caminhos e valores, promovendo mudanças e transformações em sua vida pessoal e profissional.

Editora: Gente
Autor: MARIA GIULIESE
ISBN: 9788573124330
Origem: Nacional
Ano: 2009
Edição: 1
Número de páginas: 232
Acabamento: Brochura
Formato: Médio





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E a gorjeta, doutor?

Um comentário:

  1. Pois é Mário! Tentou de tudo, rodou, rodou, mas, o Senhor já o havia fisgado. E, como sabemos, desse anzol ninguém escapa! Parabéns pelos ensinamentos, tanto seculares como teológicos. Abraços.

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