Sim, fêmea, mas chamá-la de "roboa" soaria estranho, por isso eu a chamo de "Ela, Robô". Não tinha o He-Man, a She-Ra e a Ella Fitzgerald? Então "Ela Robô" também pode. Gorda, grande e barulhenta, "Ela" não faz o gênero futurista de Hollywood. Inteligência? Só se for artificial. Capacidade de memória? Esqueça. "Ela" perde feio para qualquer calculadora. "Ela" só serve para uma coisa: fazer o trabalho sujo.
O curioso é que quem me convenceu a ter um robô foi um hippie. Isso mesmo, um cara muito zen, vestido de um imaculado branco-algodão e com os cabelos bem cuidados, presos com uma fita atravessada na testa. Hippie de butique.
Sua vidinha de fiscal de praia só era possível porque, além de morar numa praia, sua mulher trabalhava na prefeitura da cidadezinha litorânea. Ele ficava em casa cuidando das crianças. Ela também era hippie, mas não se sentia hippie por trabalhar numa repartição pública. Você conhece algum hippie funcionário público?
O sonho dela era largar o emprego e ser hippie de tempo integral no sítio do avô em Visconde de Mauá. Criar os filhos longe da influência nefasta do progresso e da TV do vizinho, que enchia a cabeça dos pequenos com as músicas do Balão Mágico. Sim, estamos falando aqui dos anos 80.
O casal não tinha TV, mas tinha um monte de filhos. Sem TV e com um controle apenas remoto, a taxa de natalidade do casal estava acima da média do IBOPE. De nossa conversa deduzi que o hippie só sabia fazer filhos e criticar o progresso. Enquanto conversávamos, minha filhinha, ainda bebê, dormia aninhada em meu colo.
Fiquei curioso quando o hippie contou que, se quisessem, já daria para viver bem só com a poupança da mulher. Era ele quem vinha adiando a mudança para o sítio, pelo menos até as crianças deixarem as fraldas. Só depois pretendiam se mudar para o mato e viver comendo inhame e tomando banho gelado. Isso mesmo, no sítio não tinha chuveiro elétrico. Lá a eletricidade só chegava quando caía raio.
Mas seu problema não era o chuveiro elétrico. Ou refrigerador, liquidificador, batedeira e ferro de passar. Ele podia viver sem. Até o secador, amigão dos cabelos amarrados com fita, podia ser trocado pelo vento da Serra da Mantiqueira. Só um eletrodoméstico era essencial, só um! Eu estava louco para saber, e você deve estar também.
-- Cara... -- o hippie começou a explicar na velocidade que hippie explica --, a mulher trabalha fora e eu fico o dia todo em casa com as crianças, sacou? Faço o rango, dou banho, lavo a roupa... Cara, você já lavou fraldas?
Fiz que sim com a cabeça e sorri um sorriso paterno para o bebê que dormia em meu colo.
-- Cara, já viu os adesivos que esses carinhas são capazes de produzir?
Fiz que sim outra vez, mas desta vez não sorri para o bebê em meu colo. Naquele tempo fralda descartável ainda era ficção científica ou orçamentária, e no sorteio das tarefas domésticas o azar era meu. Conhecia adesivos de diferentes cores, consistências e poder de aderência.
-- Pois é, cara -- o hippie falava de cara em cara --, sou capaz de abrir mão de tudo, luz elétrica, refrigerador... até o Jimi Hendrix eu aceito tocar na vitrola a pilha. Mas não mudo para o sítio com criança pequena e sem meu robô.
Fiz cara de quem não entendeu, porque não tinha entendido mesmo.
-- A máquina de lavar roupas, cara! É meu robozinho, não vivo sem ela!
Naquele momento o bebê em meu colo gemeu e pareceu ter aumentado de peso e volume. Foi quando decidi ter um robô.
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boa Mario ela robô um grande abraço de michael cxs do sul .
ResponderExcluirPassando mais um vez para deixar um abraço.
ResponderExcluirVocê citou Perdidos no Espaço, me deu uma saudade daquele seriado.
Sendo assim um super abraço, desta humana, rsss, espero por você lá no Perseverança
Nicinha
Que legal, tenho que ter um "ela robô" também, deicidi agora ter um.. rs
ResponderExcluirOlá Mario, gostei muito do seu site e dos teus textos.
ResponderExcluirConfesso que tbém não vivo sem minha "Ela, robô" hoje as fraldas são descartáveis, mas como faz bem deixar a criança livre pra brincar e se sujar..rs..."Ela" é fundamental.
Abs,