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O grampo

Você está grampeado? Sim, está, e eu também. O grampo está aí e só não vê quem não quer. Outro dia pesquisei no Google o nome de um palestrante amigo para encontrar seu site. Daquele dia em diante não tive mais sossego. Sempre que entro em algum site ou em meu mural no Facebook vejo a cara de meu amigo sorrindo para mim, como se dissesse: "Sou seu concorren-te! Sou seu concorren-te! Estou aqui e você não está-á! Rá-rá-rá!". Confesso que começo a não gostar dele. Grampearam minha vida na Internet.



A Web é como filme de policial que prende bandido: "Você tem o direito de permanecer com seus dedos calados, pois tudo o que teclar poderá ser usado contra você". Google, Facebook, Twitter e muitos outros usam e vendem suas informações como bem entendem. Por enquanto o uso parece se limitar à propaganda, mas pode esperar que a coisa vai ficar bem mais complexa e tenebrosa. Em 2012 o Facebook usou milhares de pessoas como ratos de laboratório para manipular suas emoções. Se não acredita, é só buscar ou clicar aqui. Mas será que o vazamento da notícia da "experiência" não seria mais um experimento dentro do experimento para medir a reação do público?

Se você for inteligente saberá que o destino da coleta de informações de suas necessidades, desejos e expectativas que aqueles biscoitinhos espiões -- os cookies -- fazem em seu computador não ficará restrito ao seu uso em propaganda. No desenho animado, em todos os episódios Pinky pergunta: "Cérebro, o que faremos amanhã à noite?" e Cérebro responde: "A mesma coisa que fazemos todas as noites, Pinky... Tentar conquistar o mundo!". Pois saiba que "Cérebro", o ratinho, existe e está se multiplicando na razão em que os ratos se multiplicam.

Como o "Cérebro" vai controlar você? Bem, do mesmo modo como já faz na propaganda. O ratinho, ajudado pelo rato espião que você tem em sua mesa -- o mouse -- vai anotando suas preferências, gostos, desejos etc. e os analisa para ver como fazer de você massa de manobra, bucha de canhão, otário ou as três coisas juntas. Você é um cara contestador, reacionário, que gosta de protestar contra a venda de quiabo? O ratinho vai colocar você na próxima manifestação contra o quiabo, incitando você a jogar bombas em hortas, sequestrar o verdureiro e queimar quiabo em praça pública.

Mas como o "Cérebro" conseguirá colocar em prática tamanho plano malvado? Simples, do mesmo modo como ele me direciona a ver a cara de meu amigo e concorrente palestrante em cada página que visito, do qual agora já começo a nutrir um certo ódio. As buscas que você fizer por diferentes assuntos sempre trarão notícias dos malefícios do quiabo, de produtores de quiabo que utilizam trabalho escravo e de planos secretos da CIA para usar a baba do quiabo na tortura de prisioneiros em masmorras camufladas atrás da fachada de inocentes quitandas.

Se o ratinho conseguir fazer com que você só veja aquilo que estimula seu ódio contra o quiabo, é natural que seu ódio aumente e você não se sinta sozinho. Seu mural do Facebook também trará apenas simpatizantes da luta contra o quiabo para você sentir-se incluído na classe. Pois é, agora você, que tem cinco mil amigos no Facebook, já sabe o porquê de nem todos aparecerem em seu mural, mas apenas alguns. Entendeu agora como é possível manipular seu ódio ao extremo? Por falar nisso, se souber de algum veneno mortal produzido a partir do quiabo me avise. Tem um concorrente que preciso eliminar...

Pois é, querido leitor, eu e você fomos grampeados pela Internet e nem percebemos como o exército de ratos por trás dela nos manipula. O que você faria se descobrisse ter sido vítima de um grampo? Não sei você, mas eu sei o que senti quando descobri um grampo de verdade. Minha primeira reação foi de indignação e de preocupação com o mal e prejuízo que o grampo poderia ter causado, se meu filho, cientista da computação, não o tivesse descoberto em tempo. Jamais teríamos imaginado passar por algo assim no conceituado restaurante em São Paulo onde eu e ele almoçávamos despreocupadamente.

Durante o cerco à embaixada japonesa no Peru, quando terroristas mantiveram pessoas cativas, as embalagens dos alimentos requisitados pelos terroristas eram devidamente grampeadas usando tecnologia cedida pela CIA para que fosse possível ouvir por rádio o que era conversado dentro do prédio e determinar a posição de cada terrorista. Foram introduzidos grampos até dentro dos ossos dos frangos fritos. Foi também no frango do restaurante que meu filho encontrou o grampo.

A iniciativa do restaurante em não cobrar o almoço serviu como uma espécie de acordo entre cavalheiros. Eles não cobrariam e nós não revelaríamos o nome do estabelecimento. Se tivéssemos encontrado uma barata ou verme certamente não teríamos aceitado qualquer tipo de acordo e informaríamos imediatamente as autoridades sanitárias. Mas o grampo encontrado no frango não nos pareceu premeditado. Ou foi descuido do cozinheiro ao abrir uma embalagem ou infantilidade de algum funcionário que decidiu brincar com o grampeador ao lado da panela.



Mario Persona é palestrante de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional. Seus serviços, livros, textos e entrevistas podem ser encontrados em www.mariopersona.com.br

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4 comentários:

  1. Richard Stallman já alertava sobre isso lá nos anos 90. É por isso que opto pelo Linux desde então.

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  2. Feliz Julho!
    Passando para ler mais um texto excelente! Diria que é a situação está fora do controle, mesmo que não façamos nada de "errado" existem outros grampos ligados em nós brasileiros...
    Fraterno abraço
    Nicinha

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  3. Tive a mesma sensação certo dia, ao tentar abrir um novo email. Utilizei uma rede VPN (para quem não saiba, permite teóricamente emular o registo IP do nosso computador como estando noutro país) e qual é a minha surpresa quando o novo Google Plus me apresenta sugestões de amigos e conhecidos meus... o mesmo se passa com informações guardadas em smartphones. A escolha a fazer é mesmo essa - entre digitalizar ou não sua vida (o que está no PC ou telefone já não é mais seu).

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  4. Eh! Mas foi assim que cheguei até você. Depois que pesquisei sobre um determinado assunto. Ainda bem!

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