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Ensinando a desenhar - Mario Persona

Aí naquela roda de amigas você diz que achou ma-ra-vi-lho-sa a abertura das Olimpíadas vista por 3 bilhões de pessoas e aquela "colega" diz: "Um absurdo gastar com isso tendo tanta coisa mais importante para fazer no país! Por que não investir todo esse dinheiro em educação, saúde, transportes...". Como reagir?

Para começar, "todo esse dinheiro" não é do governo, porque o governo só produz dinheiro na Casa da Moeda. Riqueza é criada por quem trabalha, produz e vende, e depois dá uma fatia — enorme, por sinal — do bolo para o governo. Esse que produz precisa de um mercado pujante com compradores e investidores, e isso se consegue com uma boa vitrine. Mesmo porque, se não vender, o empresariado não terá condições de gerar riqueza e pagar mais impostos que poderiam ir para a educação, saúde, transportes. Mas se toda a verba, que não é do governo, mas de quem produziu, for transformada em band-aid para tapar os cortes de uma má administração, aí não vai ter doces para vender.

Como assim "doces"? Que "doces"? Ouvi de alguém no Rio que perdeu tudo e foi morar com a família na rua. Acho que a história é mais ou menos assim, mas se não for funciona do mesmo jeito. Sua mulher ficou doente e o último dinheiro que sobrou ele iria usar para comprar remédio. No caminho da farmácia viu uma loja de doces e gastou tudo numa caixa de doces. Errou? Na visão socialista e assistencialista de alguns sim, porque devia usar aquele dinheiro para comprar o remédio, ainda que acabasse com ele e não tivesse para uma próxima necessidade. Na visão empreendedora a coisa é outra.

Então ele saiu vendendo os doces no semáforo, comprou outra caixa, vendeu, separou parte do dinheiro para o remédio e iniciou uma carreira de empresário com a outra, primeiro com uma banca de doces na rua, e mais tarde com um depósito de doces. O gasto com as olimpíadas é a compra da caixa de doces. Isso deve gerar negócios e aí vai dar para comprar o remédio se não usarem o dinheiro a fundo perdido para emprestar a algum país de terceiro mundo. Aí sim terá sido desperdício.

Mas talvez tudo isso seja muito complexo para sua colega que um dia trocou o cérebro por uma ideologia mofada e impregnada do ranço de uma militância improdutiva. Então tente desenhar de outra maneira para ver se ela sai desse torpor. Diga assim:

Colega, imagine que você está desempregada e vendendo o almoço para comprar a janta. Aí alguém diz para você que surgiu uma oportunidade de ser vista por trocentos entrevistadores de empresas querendo contratar. O que você faz? Vai com aquela roupa surrada (porque não tem para comprar outra), não toma banho poque acabou o sabonete e amarra um lenço para esconder o cabelo sujo. E quando o entrevistador pergunta o que tem feito você responde: "To desempregada, moço, tenho emprego não! To na pior... sniff... sniff..."

Agora imagine que você empreste roupa, sabonete e xampu da vizinha, vai toda produzida, e quando o entrevistador pergunta o que tem feito você diz: "Nossa! Não paro! Sou voluntária numa ONG, estou aprendendo mandarim na Internet, dou aula particular de crochê e levo cachorros para passear". Entendeu?

Pois é, acabo de ler uma matéria dizendo que os palhaços de rua no Rio estão fazendo até dois mil reais por dia por conta dos Jogos Olímpicos. Dois mil reais por dia! Aposto como você sempre se sentiu um palhaço trabalhando mas nunca ganhou isso, não é? Lembra aquilo que sua avó já dizia, que "enquanto uns choram, outros vendem lenços"? Sua avó era bem mais sábia do que alguns pseudo-politizados-de-botequim.

Eu sempre disse para os meus alunos: "Se quiserm arranjar emprego não fiquem desempregado". É apenas uma outra abordagem da famosa frase "Não basta ser honesto, é preciso PARECER honesto". Para alguns eu precisava explicar que eles deviam se manter ocupados porque ninguém quer contratar pessoas desempregadas se lamuriando, mas pessoas energéticas, criativas e ocupadas.

O Brasil é uma imensa loja para a qual surgiu oportunidade de aparecer para o mundo que já sabe que a crise aqui pegou feio. O que fazer? Apagar a luz da vitrine para morrer de vez? De jeito nenhum! Essa é a hora de vender uma imagem de competência para os investidores e ainda mostrar capacidade de fazer muito com pouco.

Mas se a sua amiga fugir da raia mudando de assunto para falar da crise, faça para ela um outro desenho, mas se não entender este desista porque sua amiga é do tipo que sempre olha na direção oposta da oportunidade.

Crise pode ser enxergada de mais de uma maneira. Imagine que você abriu uma loja de nicho, digamos, produtos geriátricos em sua cidade (vi isso acontecer na minha cidade). Você se refestela porque é a única e atende assim toda a demanda local. Aí outro vem e abre mais uma. Agora você atende 50% da demanda. Aí outro abre, mais outro... e um dia você acorda e descobre que sua receita não dá para pagar a conta da luz. É a crise? Não, é a partilha maior da demanda que reduziu a receita de cada player. Mesma demanda, maior número de concorrentes.

Até outro dia no Brasil você se refestelava com uma grande demanda que era partilhada com seus concorrentes e todo mundo vivia feliz. Hoje você continua repartindo com os mesmos, mas o problema é que a demanda é bem menor. Mesmo número de concorrentes, menor demanda.

Percebe que você chegou por outro caminho à mesma situação de sua loja de geriátricos de um mercado sem crise, porém mais competitivo? O que teria feito na primeira situação? Incrementado seu atendimento, criado um diferencial, investido em publicidade, reduzido a gordura etc. ou até mesmo procurado ir para outro nicho.

Com crise ou sem crise alguém sempre se dá melhor no final por ser mais criativo e aberto às possibilidades. Aqueles que ficam chorando na sarjeta e culpando outros por sua desgraça acabam com os olhos marejados demais para enxergar uma saída. Enquanto uns choram, outros... ah, eu já disse isso, não disse? Percebeu que logo serei mais cliente de seus produtos geriátricos? Sua demanda irá crescer e você precisa fazer de tudo para eu não me esquecer de que você existe e também do lugar onde está sua loja. Nem que para isso precise se vestir de palhaço e ir para a Boulevard Olímpico. Uns colocam nariz de palhaço para participar de manifestação, outros para ganhar dinheiro.

Mario Persona é palestrante de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional. Seus serviços, livros, textos e entrevistas podem ser encontrados em www.mariopersona.com.br

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Um comentário:

  1. No caso do Brasil e do povo, nao se trata de ficar chorando na sarjeta, mas sim de viabilidade. Nao é porque se trata de um investimento que deve ser feito. Nem todo investimento é viavel, e é o que esse tipo de investimento (copa e olimpiada) sao atualmente no pais, ele gera riqueza para alguns, principalmente os politicos, mas gera uma pobreza numa escala muito maior de uma forma geral, a copa do mundo é um exemplo recente, mas a memoria do brasileiro é pessima. Nao é a toa que muitos paises desenvolvidos se negaram a receber esse tipo de evento, por nao ser viavel naquele momento. Investimento é algo sério , se da certo, otimo, todos ganham. Se da errado, o investidor arca com as consequencias, no caso do Brasil, nao é o politico que responde por isso, ele sempre ganha, é negocio certo, mas o povo sofrera depois.

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