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A nuvem

Meu e-mail estava mais lento que o normal. Entendi a razão da lentidão quando percebi que o amigo que viajava pela América do Sul tinha enviado um anexo gigantesco. "Seria a Cordilheira dos Andes?" -- pensei. Não, não era uma montanha de rocha, mas das fotos que ele tirou por lá. Mal sabia eu que no dia seguinte receberia outra montanha, depois outra... até uma cordilheira fotográfica entupir meu computador.


Sugeri que ele utilizasse um dos muitos serviços de armazenamento de fotos na nuvem e depois enviasse apenas o link. É sempre mais fácil deletar um link do que uma montanha de fotos. Acho que ele não gostou da ideia por temer que suas fotos acabassem sendo mandadas para o espaço.

Nem todo mundo está familiarizado com o virtual. Eu e ele somos de uma época quando as únicas coisas virtuais que conhecíamos eram as assombrações. A Internet só não nos pegou de calças curtas porque na época já estávamos quase vestindo o pijama da aposentadoria. Tentar mudar mentes assim não é fácil.

Todavia, quer a gente goste, quer não, a nuvem vai cobrir o céu de nossos dados, sejam eles fotos, vídeos ou documentos. E por mais nebulosa que a ideia possa parecer, grande parte do processamento das empresas já está a meio caminho do espaço. Na nuvem, quero dizer.

Se você ainda envia telegramas, faz seu imposto de renda na máquina de escrever e frequenta a fila do banco para pagar contas, deve estar estranhando este meu papo. "De que nuvem esse cara está falando?!" Oras, é fácil descobrir. Faça uma busca por "nuvem" em qualquer um dos buscadores que funcionam na nuvem.

Enquanto para umas empresas usar a nuvem é voar em céu de brigadeiro, para outras a ideia de exportar seus dados para fora de sua 'sede própria' está fora de cogitação. Mesmo assim, é para lá que estão indo muitos processos. O talão de notas fiscais de minha empresa acabou de se mudar para a nuvem, e está feliz por ter se livrado do carbono e daquele horrível pedaço de radiografia de quando quebrei o pé.

Talvez a maior dificuldade de alguns empresários esteja em distinguir o que é real e o que não passa de vapor ou ilusão neste novo mundo virtual. Se meu pai ainda estivesse por aqui, iria querer repetir sua história predileta do perigo que é não saber distinguir o real do ilusório.

Era o causo do caipira, que atravessava cambaleante o pasto de sua propriedade ao voltar da quermesse na cidade. Embriagado, via tudo dobrado: duas árvores, duas porteiras, duas vacas... uma falsa, outra verdadeira. Na dúvida, achou melhor considerar todas elas reais, feliz por ver sua fazenda multiplicada. Até perceber que um duplo touro bravio raspava a terra com o casco antes de partir em sua direção.

Movido pela alta octanagem da mistura de álcool e adrenalina, o homem disparou em direção às duas únicas árvores existentes no pasto -- uma falsa, outra verdadeira. Sua incapacidade de distinguir o falso do verdadeiro lhe custou caro. Ele tinha acabado de subir na árvore falsa quando o touro verdadeiro o pegou.


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E a gorjeta, doutor?

2 comentários:

  1. OLÁ!
    QUE SAUDADES MARIO!!! FAZ TEMPO QUE NÃO PASSO POR AQUI, QUE BOM QUE ESTÁ TUDO CERTINHO E COMO SEMPRE MUITO BEM INFORMADO.
    DEIXO PARA VOCÊ UM SUPER ABRAÇO E UMA SEMANA DE MUITAS REALIZAÇÕES.
    NICINHA

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  2. Grande Mário Persona, meu amigo e admirado escritor.
    Pois é, você tem razão a respeito da realidade da nuvem, esta nova forma de processar dados. E o melhor desta nuvem é que pode chover informação sem parar, que esta enchente não afoga ninguém...
    Grande abraço!

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