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Sou apolitico

Ok, hoje vou revelar o que você sempre quis saber de mim mas tinha vergonha de perguntar. Ou talvez não. Sou apolítico! Pronto, falei. As pessoas se assustam quando digo que sou apolítico, como se fosse palavrão. Não que eu não me interesse por política. É claro que me interesso, como também gosto de filmes de drama, comédia e ficção, elementos que não faltam à política. Mas eu até me interessei mais pela coisa quando era universitário, até descobrir que era a política que não estava nem um pouco interessada em mim.

Manifestação na FAUS onde estudei. Minha turma aparece lá no fundo e talvez eu estivesse ali. Na época eu era tão macrobiótico, magro e pálido que devia estar de perfil, por isso não apareci.

Por acreditar que democracia deveria incluir a liberdade de decidir se voto ou não, fico sem muito entusiasmo em época de eleição. Pode ser trauma dos anos que passei contando papeizinhos, com candidatos e fiscais fungando em minha nuca. Em época de eleição sempre sonho que vão me chamar e acordo suando. Por isso considero um grande avanço aquela maquininha lá pra fazer o serviço. Tem até aquele barulhinho engraçado que faz quando a gente termina. Será uma risadinha?

Talvez você seja contra a urna eletrônica alegando que ela pode ser hackeada ou viciada. Tá, então você nunca deve ter participado da contagem manual, não é mesmo? Mas até que contar votos tinha seu lado pitoresco. Eram hilárias as discussões para descobrir se o sujeito que votou no Papai Noel queria mesmo o candidato de apelido homônimo ou estava só de gozação. E o que fazer quando alguém escrevia "Nulo" e tinha um obscuro candidato a vereador com aquele nome?

Faz lembrar um episódio — será lenda urbana? — ocorrido na véspera da primeira eleição para presidente depois da ditadura militar. Em um voo Brasília-São Paulo numa quinta-feira, que é quando começa o fim de semana na Capital Federal, um sujeito pegou o microfone da comissária e sugeriu que fizessem uma prévia entre os passageiros. A cédula seria o guardanapo e a urna o saquinho de vomitar. Emblemático, não?

Na hora da apuração dos votos o sujeito lá na frente foi cantando os resultados e no final comentou:

— Ô, gente, era pra votar sério. Tem três votos aqui pro Enéas!

Imediatamente, lá do fundo do avião veio uma voz vibrante:

— Os votos são o meu, da minha esposa e do meu cunhado. Meu nome é Enéas!

O mais longe que minha memória política consegue alcançar é quando o Jânio renunciou. Eu era pequeno, mas grande o suficiente para entender que a situação do país não estava nem um pouco ótima. Eu gostava do Jânio por causa das vassourinhas que ganhara num comício! Na época havia outro político chamado Carvalho Pinto que distribuía pintinhos, mas eu preferia as vassourinhas.

Cresci, estudei e me formei arquiteto durante a ditadura, quando Lula e Dilma ainda não formavam uma dupla e a gente achava que Geraldo Vandré e Chico Buarque dariam bons presidentes. Belchior cantava que nossos pais estavam em casa "contando o vil metal", mas eles estavam na verdade colecionando receitas de doces e salgados recortadas da primeira página do Jornal O Estado de São Paulo, nas vagas que a tesoura da censura tinha deixado.

Na faculdade tive alguns espasmos de militância política, mas não duraram muito quando percebi que os que não estavam no poder só queriam mesmo estar no controle, nada mais. Numa assembleia de greve que promovemos sentei-me ao lado da líder do movimento, que ia à faculdade fantasiada de Che Guevara de coturno, boininha e estrelinha. Quando ela soube que duas alunas se recusavam a sair da sala de aula, ficou mais vermelha que a estrelinha e suas convicções. Berrou que as duas fossem arrancadas da classe na marra, pois ninguém tinha o direito de furar a greve. Levantei-me e saí de perto dela com receio de que sua vermelhidão fosse contagiosa. O motivo da greve? Garantir o direito às liberdades individuais.

Naquela época o povo não sabia de nada do que acontecia no governo, só o presidente. Mudou muito desde então. Agora filmadoras e gravadores estão em todo lugar e tirar meleca do nariz em elevador pode obrigar um político a renunciar. A menos que ele coma a bolinha seguida de um gole de café, como fez Berlusconi, e acabe reeleito. Naquele tempo não existiam as redes sociais, no máximo aquelas de casal que você compra no Nordeste. Fui saber de algumas coisas que rolaram durante a ditadura só anos depois, quando conheci um sujeito que foi preso e torturado na região do Araguaia. Ele me contou que não era terrorista, e só tinha ido ali vender carnês do Baú. Eu também acho que não era motivo para ele ter sido torturado.

Não entendo muito de regimes, daí minha falta de jogo de cintura em política. Só sei que os socialistas, que acusavam o capitalismo de ser a exploração do homem pelo homem, hoje fazem o contrário. Creio que a forma de governo original seja a monarquia, mas se você for parente de D. Pedro, não mande e-mails pedindo meu apoio, pois para mim ainda não ficou muito claro quem é pai de quem. Nos retratos dos livros de história, D. Pedro II, de barba, parece ser pai de D. Pedro I, muito mais jovem.

Minha monárquica opinião é baseada tão somente na observação dos mais de trinta países que ainda têm reis e rainhas enfeitando seus governos. Alguns como Austrália, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Espanha, Japão, Noruega e Suécia não me parecem lugares tão horríveis assim para se viver. Nesses países até quando derrubam o governo, o governo permanece, como aconteceu na Tailândia. Veja a Inglaterra. Parece até que monarquia faz bem à saúde, porque rainha lá não morre fácil não. Acho que não pode envelhecer e nem mudar o penteado, pois seu retrato está no dinheiro. Será que é por isso que gostam tanto dela?

Na Inglaterra até os jornais adoram a família real, porque se não fossem os escândalos, iriam publicar o quê? Aqui jornais e humoristas também gostam muito do governo. Alguém lembrou que nem dos impostos devíamos reclamar. Se colocássemos na ponta do lápis, veríamos que ainda é pouco o que pagamos comparado ao que recebemos de volta na forma de entretenimento.

Para encerrar, devo confessar que também sou meio determinista nessa coisa de governo. Acho que o que tem de ser será, e cada país tem o governo que merece, inclusive com reeleições que lembram aquelas frases de traseira de caminhão: "Desejo a você em dobro, tudo o que desejas para mim!". Foi por isso que os brasileiros tiveram dois Lulas, os americanos tiveram dois Obamas, e os dois Kirchners tiveram os argentinos.

Mario Persona é palestrante de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional. Seus serviços, livros, textos e entrevistas podem ser encontrados em www.mariopersona.com.br

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4 comentários:

  1. O engraçado de vc ver com bons olhos esses países monárquicos é que na maioria quase absoluta deles, suas fortunas e governança só existem por eles terem usurpado os bens de outros países pra dar boa vida ao seu. Assim fica tudo bonito aos olhos de quem vê apenas a aparência externa e não os porões enlameados de sacrifício alheio.

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  2. Estou 'encantada' com o seu senso de humor. Faz muito tempo que não me divirto tanto lendo um texto online... E quantas verdades ditas de forma divertida... realmente genial! Concordo plenamente com as suas colocações; com leveza se consegue dizer muitas verdades que seriam motivo de discórdia usando outras palavras... realmente inspirado! Tenho que tomar cuidado para não abonar tudo que escreve ou fala, sem realmente repensar cada tema. Neste momento, não sei se é pastor ou mestre, se lidera alguma 'igreja' física ou somente responde a questões virtualmente, mas gostaria de saber. Certamente, vou continuar lendo aqui e alí e vou descobrir... só preciso que o discernimento e sabedoria que Deus me deu não permitam que eu fique 'engessada' no que você publica... Obrigada, até aqui foi um prazer!

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    1. Anônimo29/3/16

      pelo q sei Sandra Marilyn, ele nao é pastor,é ovelha...

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    2. Obrigada pela informação. Já havia chegado a essa conclusão... é um pena, queria ter um pastor com as características dele...

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