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Conversa de telefone

— Alô, gostaria de falar com algum especialista do ensino.
— Sim, pode falar comigo.
— Seu nome?
— Máximo Escolástico Cursino.
— Ok, seu Máximo Esco... Xiii... já esqueci...
— Pode me chamar pelo apelido, Mec.

— Está bem, seu Mec, o assunto é o seguinte. Eu lecionava marketing para uma turma de Administração de Empresas e agora...
— Não vai poder mais lecionar. É isso?
— Puxa, você está por dentro mesmo, hein? É verdade o que estão dizendo por aí?
— É. Você não é administrador formado e registrado no conselho?
— Não, minha formação não é em administração. Arquitetura e urbanismo, tipo descobrir necessidades das pessoas e dos habitantes das cidades, criar ambientes, ter visão espacial, coisas assim... Mas minha atuação profissional é em marketing, faço palestras, leciono em MBA, tenho alguns livros publicados, artigos...
— Não importa. O que vale é ser administrador se quiser ensinar administrador em cursos de graduação. Cabe ao administrador exercer o magistério das matérias técnicas dos campos da administração nos cursos de graduação.
— Rapaz, você sabe de cor, hein? Todas as disciplinas?
— As profissionalizantes, relacionadas com as áreas específicas e que envolvam teorias da administração e das organizações e a administração de recursos humanos, mercadologia e marketing, materiais, produção e logística, administração financeira e orçamentária, sistemas de informações, planejamento estratégico e serviços.
— Entendi... isso ainda deixa espaço para muitas disciplinas, né? E se tiver experiência de mercado, puder trazer conhecimento de primeira mão de como é no mundo real...
— A norma é clara.
— É, a norma... Humm... Estava pensando em convidar alguns conhecidos para lecionar em meu lugar, mas não sei não...
— Quem são?
— Bem, tem o Peter, sabe qual é? O sobrenome é Drucker, que escreveu um montão de livros de administração, muitos deles usados nas faculdades.
— É administrador de empresas?
— Não, é advogado e estatístico.
— Não pode.
— Hummm... tenho outros aqui numa lista que peguei na Internet, não tenho certeza, mas acho que nenhum deles está qualificado para ensinar em nossas faculdades de administração. Seus livros são usados nas faculdades de administração...
— Sem diploma de administrador em uma instituição reconhecida, nada feito.
— Deixe-me ver... Antonio Hermírio é brasileiro, mas é engenheiro civil... outros grandes empresários que conheço, mas nenhum... pensei ainda no Bill Gates, mas nem faculdade tem.
— Sabe por que foi tomada essa decisão?
— Não, mas gostaria de saber.
— Para melhorar a qualidade do ensino nas faculdades de administração. Apenas administradores formados têm capacidade e competência para ensinar disciplinas que são críticas para a boa administração de uma empresa.
— Entendi... então o Bill não serve. Vou ter que pensar em outro.
— Você compreendeu bem a razão?
— Claro, se você diz que isso vai melhorar a qualidade dos profissionais que sairão de nossas faculdades, quem sou eu para contestar? Além disso reserva mercado de trabalho para administradores que não poderiam lecionar se o critério fosse apenas de experiência, né? Só estou pensando em quem poderia indicar para lecionar marketing em meu lugar... Acho que só resta eu indicar um ex-aluno meu. Pode ser?
— Pode, desde que seja graduado.
— Então está resolvido! Vou indicar um ex-aluno que acabou de se formar. Rapaz inteligente, comunicativo, gente boa.
— Tenho certeza de que ele tem muito a agregar para a melhoria do ensino.
— Certamente. Você está coberto de razão. Isso deve dar prestígio à profissão. E estou até pensando em voltar a lecionar daqui a algum tempo. Será que se eu prestar vestibular e cursar administração posso voltar a lecionar?
— Claro, nada impede, desde que tenha também o registro no conselho.
— Ótimo! Então é isso que vou fazer! Acho que consigo eliminar algumas disciplinas pelo curso que fiz quando estudei. Daqui a quatro anos eu... Êpa! Surgiu uma dúvida. Posso eliminar marketing, já que era eu o professor?
— Não, se não cursou a disciplina quando esteve na faculdade.
— Não, não cursei.
— Então vai precisar fazer a disciplina, como todos os alunos.
— Quer dizer que vou ser aluno de meu aluno e ele vai ser professor de seu professor? Quando eu tiver dúvidas na aula, devo perguntar para quem? Para ele ou para mim?
— Não entendi.
— É, acho que você não vai conseguir entender. A situação vai ser estranha e perigosa. Já pensou se meu aluno me reprova? Como poderia me considerar inapto, se o que sabe é o que ensinei a ele?
— Continuo sem entender...
— E nem esperaria que entendesse, estou pensando em voz alta e... hummm... acho que não, não vou cursar administração não.
— Por que?
— Porque não confio na qualidade do ensino. Veja bem, vou ser aluno de meu aluno para aprender o que ensinei a ele, não é?
— É.
— Que confiança posso ter no que vou aprender, se ele aprendeu com quem não tinha capacidade para ensinar? Vamos deixar assim. Vou continuar com minhas outras atividades. Obrigado pelas informações e pela paciência em ouvir.
— Não tem de quê.
— Até logo.
— Até logo.



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Monge e o Executivo: uma História sobre a Essência da Liderança, O
JAMES C. HUNTER


Você está convidado a juntar-se a um grupo que durante uma semana vai estudar com um dos maiores especialistas em liderança dos Estados Unidos.
Leonard Hoffman, um famoso empresário que abandonou sua brilhante carreira para se tornar monge em um mosteiro beneditino, é o personagem central desta envolvente história criada por James C. Hunter para ensinar de forma clara e agradável os princípios fundamentais dos verdadeiros líderes.
Se você tem dificuldade em fazer com que sua equipe dê o melhor de si no trabalho e gostaria de se relacionar melhor com sua família e seus amigos, vai encontrar neste livro personagens, idéias e discussões que vão abrir um novo horizonte em sua forma de lidar com os outros. É impossível ler este livro sem sair transformado. O Monge e o Executivo é, sobretudo, uma lição sobre como se tornar uma pessoa melhor.


E a gorjeta, doutor?

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