JOVEM UNIVERSITÁRIO, dezenove anos, simpático, condução própria, procura garota para relacionamento afetivo. Eu me sentia assim, quando o recepcionista do Casa Grande Hotel, no Guarujá, abriu a porta de meu Corcel 74 para eu descer. A garota, colega de faculdade que passava as férias na mesma cidade, estava hospedada ali e aceitara meu convite para uma tarde juntos. Meu sonho se transformava em realidade.
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Marketing de tirar o chapeu
Na infância, fui escoteiro de uniforme, mas sem chapéu. Os
chapéus do grupo eram fabricados em Limeira pela Prada, a mesma que fabricava
um modelo igual ao do Indiana Jones. Se no filme o chapéu de Harrison Ford não
saía da cabeça, comigo acontecia o contrário. O chapéu não entrava. Eu era um
menino de cabeça grande, desses que a mãe usa o bonezinho para trazer a
melancia da feira. Eu era diferente, e não podia ter um chapéu de feltro como
os outros meninos. Não fabricavam o meu número.
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Conversa de elevador
Escrevo do quarto do resort onde estou hospedado para ministrar uma palestra daqui a pouco e falar de vendas e mudanças para representantes comerciais. Acordei cedo, fui ao restaurante tomar café e cumprimentei com um "bom dia" a todos os que fizeram contato visual. Eu não sabia quem era ou não do evento, portanto o melhor foi sorrir e cumprimentar geral.
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A aguia e a coruja
Meus filhos, quando pequenos, eram as crianças mais lindas do mundo. Agora, muitos anos depois, descubro que a história se repete: meu neto é o mais lindo do mundo. Não concorda?!
Nem deveria. Se você for pai ou mãe irá querer para seus filhos o primeiro lugar no podium. Se for avô, irá rebaixar meu neto, porque você sempre escolherá o referencial que for melhor para você. Em negócios não é diferente, e é aí que mora o perigo.
Muita gente quebra a cara por achar que vai conseguir vender para os outros aquilo que venderia para si. Mergulhou de cabeça no mercado sem perceber a tendência que todo ser humano tem de se considerar o umbigo do Universo.
Aí decide fabricar aquilo que mais gosta, abrir uma loja no ponto mais perto de casa e só contratar quem torcer pelo mesmo time. Se tiver sorte, vai encontrar gente do mesmo gosto para comprar. Se não tiver, vai achar que é a crise, só para manter intacto o seu critério de auto-referência.
Se desejo atingir algum público, minhas preferências devem ficar guardadas para mim, caso não encontrem eco no mercado. No mais, eu devo mesmo é analisar as preferências do público que pretendo atingir e virar camaleão.
Não estou falando de abrir mão de suas convicções pessoais. Se fosse assim eu iria sugerir que você partisse para o tráfico, que dá mais dinheiro do que aquela lojinha de bijuterias que pretende abrir.
Suas convicções pessoais devem continuar norteando suas ações, mas pode ser que descubra ser bom negócio abrir uma butique de "Alta Costura de 1,99" perto da rodoviária. Aí, se você sentir náusea só de olhar para os modelitos, contrate uma gerente à altura e saia de perto.
Não basta conhecer seus clientes para atendê-los do jeito que eles gostam; é preciso ter pessoas adequadas a eles e motivá-las com estímulos igualmente adequados. Se no Brasil você motiva seus vendedores dando a eles um nadinha de fixo e uma comissão generosa, no Japão precisa fazer o inverso ou ninguém vende.
O brasileiro é mais individualista, seu desejo é de se sobressair. O japonês é mais coletivista, seu desejo é que a equipe se sobressaia. Ele não se sente bem se deixar seus colegas para trás. Talvez seja por isso que seus carros de Fórmula 1 sejam pilotados por estrangeiros.
Até na hora de promover seus produtos é preciso levar em conta o referencial dos clientes. Se os seus clientes forem borracharias no Afeganistão e você enviar folhinhas com mulheres com o rosto descoberto, podem acabar confiscadas pela censura local.
Mas, para uma clientela de indígenas sul-americanos, as mais desnudas modelos poderão parecer tão vestidas quanto uma freira se tiverem um cordãozinho de palha em torno da cintura. As referências mudam de acordo com os povos e as culturas, daí o perigo de você se nortear por seus próprios referenciais.
O clássico dos clássicos em termos do perigo da auto-referência é a fábula da águia e da coruja, de onde vem a expressão "mãe coruja". Dona Coruja, ao encontrar Dona Águia em plena temporada de caça, suplicou:
- Dona Águia, já que somos amigas, rogo-lhe que não coma meus filhotes.
- Certamente - respondeu a águia - nossa amizade me impede de fazê-lo. Mas como os reconhecerei se nem mesmo sei onde fica o seu ninho?
- Ora, Dona Águia, é fácil. Eles são os filhotes mais lindos da floresta!
Assim, para não correr riscos de arranhar sua amizade com Dona Coruja, Dona Águia procurou comer apenas os filhotes mais feios que encontrou: um par de criaturas horrorosas com grandes olhos arregalados enfiados numa toca em uma velha árvore.
© Mario Persona - Quer publicar Mario Persona CAFE em seu blog? Clique aqui para obter o código do gadget. Você também pode publicar o texto na íntegra em seu site, blog, jornal ou revista, desde que mantenha os créditos do autor e tenha um link apontando para www.mariopersona.com.br.
Nem deveria. Se você for pai ou mãe irá querer para seus filhos o primeiro lugar no podium. Se for avô, irá rebaixar meu neto, porque você sempre escolherá o referencial que for melhor para você. Em negócios não é diferente, e é aí que mora o perigo.
Muita gente quebra a cara por achar que vai conseguir vender para os outros aquilo que venderia para si. Mergulhou de cabeça no mercado sem perceber a tendência que todo ser humano tem de se considerar o umbigo do Universo.
Aí decide fabricar aquilo que mais gosta, abrir uma loja no ponto mais perto de casa e só contratar quem torcer pelo mesmo time. Se tiver sorte, vai encontrar gente do mesmo gosto para comprar. Se não tiver, vai achar que é a crise, só para manter intacto o seu critério de auto-referência.
Se desejo atingir algum público, minhas preferências devem ficar guardadas para mim, caso não encontrem eco no mercado. No mais, eu devo mesmo é analisar as preferências do público que pretendo atingir e virar camaleão.
Não estou falando de abrir mão de suas convicções pessoais. Se fosse assim eu iria sugerir que você partisse para o tráfico, que dá mais dinheiro do que aquela lojinha de bijuterias que pretende abrir.
Suas convicções pessoais devem continuar norteando suas ações, mas pode ser que descubra ser bom negócio abrir uma butique de "Alta Costura de 1,99" perto da rodoviária. Aí, se você sentir náusea só de olhar para os modelitos, contrate uma gerente à altura e saia de perto.
Não basta conhecer seus clientes para atendê-los do jeito que eles gostam; é preciso ter pessoas adequadas a eles e motivá-las com estímulos igualmente adequados. Se no Brasil você motiva seus vendedores dando a eles um nadinha de fixo e uma comissão generosa, no Japão precisa fazer o inverso ou ninguém vende.
O brasileiro é mais individualista, seu desejo é de se sobressair. O japonês é mais coletivista, seu desejo é que a equipe se sobressaia. Ele não se sente bem se deixar seus colegas para trás. Talvez seja por isso que seus carros de Fórmula 1 sejam pilotados por estrangeiros.
Até na hora de promover seus produtos é preciso levar em conta o referencial dos clientes. Se os seus clientes forem borracharias no Afeganistão e você enviar folhinhas com mulheres com o rosto descoberto, podem acabar confiscadas pela censura local.
Mas, para uma clientela de indígenas sul-americanos, as mais desnudas modelos poderão parecer tão vestidas quanto uma freira se tiverem um cordãozinho de palha em torno da cintura. As referências mudam de acordo com os povos e as culturas, daí o perigo de você se nortear por seus próprios referenciais.
O clássico dos clássicos em termos do perigo da auto-referência é a fábula da águia e da coruja, de onde vem a expressão "mãe coruja". Dona Coruja, ao encontrar Dona Águia em plena temporada de caça, suplicou:
- Dona Águia, já que somos amigas, rogo-lhe que não coma meus filhotes.
- Certamente - respondeu a águia - nossa amizade me impede de fazê-lo. Mas como os reconhecerei se nem mesmo sei onde fica o seu ninho?
- Ora, Dona Águia, é fácil. Eles são os filhotes mais lindos da floresta!
Assim, para não correr riscos de arranhar sua amizade com Dona Coruja, Dona Águia procurou comer apenas os filhotes mais feios que encontrou: um par de criaturas horrorosas com grandes olhos arregalados enfiados numa toca em uma velha árvore.
Governança Ambiental Global: Opções & Oportunidades DANIEL C. ESTY e MARIA H. IVANOVA Quem decide as questões que afetam o meio ambiente? Que critérios norteiam essas decisões? Como são representados os interesses das comunidades e dos ecossistemas envolvidos? Foram essas indagações que deram origem ao conceito de governança ambiental e a todo o debate atual sobre o uso e a gestão dos recurosos naturais. Os ensaios desta coletânea reúnem importantes peças desse debate num só volume, abordando questões essenciais de maneira acessível e sugerindo caminhos viáveis para uma participação efetiva de governos, organizações não-governamentais, empresas e indivíduos. É mais uma iniciativa do Senac São Paulo em apoio às ações voltadas para o desenvolvimento sustentável e sustentado. |
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Operacao "Persona"
Entro em um site de notícias e lá diz que a "Operação Persona" da Polícia Federal prendeu gente de montão. Imagine o susto deste homônimo, que mora em Limeira, ao ler ainda que tinha laranjas envolvidos na história! Eu, hein? Prisão eu prefiro a de ventre.
Não sei no que isso vai dar, mas ao contrário do que acontecia no passado, hoje nem sempre o nome ou a posição livram a cara do cidadão. No meu tempo de menino bastava um "Você sabe com quem está falando?" para o assunto morrer ali. O nome resolvia a parada.
Todavia, em marketing o nome ainda resolve, e as marcas que o digam. O nome de um produto, marca ou até operação precisa ser muito bem pensado para evitar confusão. Minha empresa tem meu nome, mas poderia não ter se eu fosse o fundador da Toyota. É que Sakichi Toyoda achou melhor trocar o "d" pelo "t" antes de virar carro. Sim, uma letra faz a diferença. Uma garçonete nos EUA está processando o bar que prometeu dar um Toyota para quem vendesse mais. Ela vendeu e descobriu que foi enganada. O prêmio era um "toy Yoda", uma miniatura do Mestre Yoda de "Star Wars".
Às vezes pode ser importante manter o nome do fundador, mesmo que isso exija um esforço extra para ensinar aos consumidores a pronúncia correta. O "Café Kühl", tradicional marca que costumo comprar em minha cidade, fez assim. No passado a empresa imprimia, sob o nome da marca, a frase "Diga Kil".
Quando explicar não resolve, a empresa pode até decidir não lançar o produto. Na década de 70 o Ford Pinto, que quer dizer "cavalo malhado" nos EUA, deixou de vir para o Brasil por motivos óbvios. Mandaram para cá o Maverick, o "cavalo rebelde".
Se você quiser uma Mitsubishi "Pajero" em alguns países de língua hispânica, terá de se contentar com uma Mitsubishi "Montero". A empresa achou melhor se livrar da palavra pajero que na gíria de alguns desses países significa masturbador. Pela mesma razão o Buick "Lacrosse" virou "Allure" quando foi para o Canadá, e demorou para alguns motoristas brasileiros pararem de levar a mal quando alguém anunciava que a "Besta" estava chegando. Nomes podem confundir.
Há também marcas que ajudam no sucesso de uma empresa ou produto. Você provavelmente nem olharia para um Walkman da marca "Tokyo Telecommunications Engineering Corporation", mas compraria um da marca "Sony", o nome moderno da empresa.
A marca também pode fazer a empresa decolar ou não. A Kiwi Airlines foi à falência dois anos depois de sair do ovo. Quase não deu tempo de seus aviões levantarem poeira, no máximo um cisco. Alguém poderá dizer que o problema foi de má administração, mas eu não botaria fé em uma companhia aérea com o nome de um pássaro que voa tanto quanto o fruto homônimo. Ou seja, do galho ao chão.
Dependendo da atividade, até pessoas precisam mudar de nome para fazer sucesso. Você se arriscaria na carreira de cantora se fosse uma garota portuguesa chamada Maria Antonia Sampaio Rosa? Se cantasse bem, talvez pudesse emplacar alguns fados numa obscura cantina de Lisboa, mas jamais conquistaria milhões de ouvintes como Mia Rose conquistou.
Isso mesmo, é a própria Maria Antonia, uma garota de 18 anos, dona do segundo canal mais assinado do YouTube e um dos 25 mais vistos: 27 milhões de exposições. A menina nasceu com talento, mas sem um bom nome, o que é fácil de resolver. O contrário é que não. Como fez Maria Antonia, é comum artistas assumirem literalmente uma segunda persona, ainda que seja só no nome.
Você perderia tempo de ir ao cinema para assistir um filme com Allen Konigsberg, Archibald Leech, Cherilyn Shakisian, Tom Mapother, Bernie Schwartz, Margaret Hyra, Frances Gumm, Issur Danielovitch e Maurice Micklewhite? Provavelmente não.
Mas para assistir uma superprodução reunindo Woody Allen, Gary Grant, Cher, Tom Cruise, Tony Curtis, Meg Ryan, Judy Garland, Kirk Douglas e Michael Caine você certamente compraria ingresso antecipado.
Idéias que Colam: por que Algumas Idéias Pegam e Outras Não CHIP HEATH e DAN HEATH Todo mundo tem idéias a transmitir. De CEOs de grande empresas a mães que se dedicam à educação de seus filhos: um novo produto a ser lançado no mercado ou valores que está tentando ensinar a seus filhos. Mas é extremamente difícil influenciar e transformar a forma de agir e pensar das pessoas. Mas o que faz com que algumas idéias "peguem" e outras não? Como aumentar as chances de ter idéias que valem a pena? Neste livro os renomados educadores, Chip e Dan Heath, abordam questões intrigantes sobre o que faz uma idéia repercutir e, além disso, permanecer no imaginário das pessoas. Provocativo, esclarecedor e surpreendentemente engraçado, este livro mostra os princípios essenciais de idéias vencedoras. |
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A quinta letra
"Sou gerente de comunicação do YouTube e estamos organizando um bate-papo com poucos internautas brasileiros para saber o que pensam do site, o que mais usam, e como a experiência poderia ser melhorada. Seu nome foi selecionado entre milhões de usuários..."
Minha primeira reação foi verificar se o email era verdadeiro. Afinal, ele chegou na mesma caixa postal que recebe todos os dias convites para sacar milhões de dólares de uma conta na Nigéria. O do YouTube era genuíno.
O convite era uma verdadeira aula do conceito AIDA de comunicação: Attention, Interest, Desire and Action. Ok, o acrônimo também dá certo em português, mas achei que no original ficaria mais chique.
Ao se apresentar como gerente de comunicação do YouTube, ele chamou minha ATENÇÃO, o "A" do AIDA. Ao pedir minha opinião, acertou em cheio o "I" de meu INTERESSE. Quem é que não gosta de dar opinião, falar de suas vitórias ou cicatrizes? Todo bom vendedor sabe que não vende se ficar falando de si, de seu produto ou serviço, mas interessando-se pela opinião do cliente, suas necessidades, DESEJOS... Epa! Olha o "D" aí!
Babei saliva. Afinal, meu nome tinha sido escolhido dentre milhões de usuários. MILHÕES, grande assim! Bem, até que fazia sentido, já que só meus vídeos da "TV Barbante" são vistos 2 mil vezes por dia e passaram de 1 milhão desde 2006. "O Evangelho em 3 minutos", com mil views diários, está batendo nos 300 mil com apenas 14 meses de vida.
Faltava a última letra do AIDA, que foi logo cravada com a frase: "O número de vagas é extremamente limitado e é necessário confirmar presença". Urgir por uma resposta funciona até para quem nunca viu tal verbo. O "A" de AÇÃO que faltava para eu tomar uma decisão estava bem ali. O que você teria feito em meu lugar?
Pois é, eu também não estava disposto a viajar 150 quilômetros até São Paulo só para contar o que penso do YouTube. Minha opinião podia muito bem ir por email ou vídeo, só para ficar no contexto. Antes que eu me decidisse por não ir, minha ATENÇÃO, INTERESSE, DESEJO e AÇÃO foram adrenalizados (não adianta procurar, o verbo não existe) pela quinta letra de AIDA. Também não adianta procurar.
Em comunicação, aquilo que você não diz pode ser mais potente do que toda a sua verborragia (que lembra hemorragia) ou verborréia (...). O silêncio aturde. Se você duvida é porque sua esposa nunca fez greve de palavras. Devia ter algo mais. A quinta letra, a letra que faltava, criou ansiedade em mim. As reticências eram tão instigadoras que respondi imediatamente confirmando presença. Eu teria de viajar a São Paulo de qualquer maneira para pegar um vôo para a Bahia.
No dia seguinte, vinte e poucos youtubers, jornalistas e funcionários da Google ocupavam a sala, e a soma de suas idades não chegava à minha. Quase podia adivinhar seus pensamentos quando me fitavam: "Será que já existia Internet no tempo desse dinossauro?!".
Minha suspeita se confirmou: havia sim algo mais. O bate-papo era com o próprio Chad Hurley, um dos criadores do YouTube. A reunião foi uma verdadeira Babel que ia do inglês ao portunhol, passando pelo "the book is on the table". Quando chegou a minha vez, vi que faltavam dois segundos para o encontro terminar. Dada a escassez de tempo, decidi começar pelo "A" de AIDA e chamar a atenção:
- Meu nome é Mario Persona, sou palestrante, escritor e consultor, e uso o YouTube para ganhar dinheiro.
Como eu previa, o burburinho foi geral. "Show us the money!", gritou alguém. Então, com toda a atenção cravada em mim, contei ao Chad Hurley e aos youtubers como ganho dinheiro com o YouTube.
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Minha primeira reação foi verificar se o email era verdadeiro. Afinal, ele chegou na mesma caixa postal que recebe todos os dias convites para sacar milhões de dólares de uma conta na Nigéria. O do YouTube era genuíno.
O convite era uma verdadeira aula do conceito AIDA de comunicação: Attention, Interest, Desire and Action. Ok, o acrônimo também dá certo em português, mas achei que no original ficaria mais chique.
Ao se apresentar como gerente de comunicação do YouTube, ele chamou minha ATENÇÃO, o "A" do AIDA. Ao pedir minha opinião, acertou em cheio o "I" de meu INTERESSE. Quem é que não gosta de dar opinião, falar de suas vitórias ou cicatrizes? Todo bom vendedor sabe que não vende se ficar falando de si, de seu produto ou serviço, mas interessando-se pela opinião do cliente, suas necessidades, DESEJOS... Epa! Olha o "D" aí!
Babei saliva. Afinal, meu nome tinha sido escolhido dentre milhões de usuários. MILHÕES, grande assim! Bem, até que fazia sentido, já que só meus vídeos da "TV Barbante" são vistos 2 mil vezes por dia e passaram de 1 milhão desde 2006. "O Evangelho em 3 minutos", com mil views diários, está batendo nos 300 mil com apenas 14 meses de vida.
Faltava a última letra do AIDA, que foi logo cravada com a frase: "O número de vagas é extremamente limitado e é necessário confirmar presença". Urgir por uma resposta funciona até para quem nunca viu tal verbo. O "A" de AÇÃO que faltava para eu tomar uma decisão estava bem ali. O que você teria feito em meu lugar?
Pois é, eu também não estava disposto a viajar 150 quilômetros até São Paulo só para contar o que penso do YouTube. Minha opinião podia muito bem ir por email ou vídeo, só para ficar no contexto. Antes que eu me decidisse por não ir, minha ATENÇÃO, INTERESSE, DESEJO e AÇÃO foram adrenalizados (não adianta procurar, o verbo não existe) pela quinta letra de AIDA. Também não adianta procurar.
Em comunicação, aquilo que você não diz pode ser mais potente do que toda a sua verborragia (que lembra hemorragia) ou verborréia (...). O silêncio aturde. Se você duvida é porque sua esposa nunca fez greve de palavras. Devia ter algo mais. A quinta letra, a letra que faltava, criou ansiedade em mim. As reticências eram tão instigadoras que respondi imediatamente confirmando presença. Eu teria de viajar a São Paulo de qualquer maneira para pegar um vôo para a Bahia.
No dia seguinte, vinte e poucos youtubers, jornalistas e funcionários da Google ocupavam a sala, e a soma de suas idades não chegava à minha. Quase podia adivinhar seus pensamentos quando me fitavam: "Será que já existia Internet no tempo desse dinossauro?!".
Minha suspeita se confirmou: havia sim algo mais. O bate-papo era com o próprio Chad Hurley, um dos criadores do YouTube. A reunião foi uma verdadeira Babel que ia do inglês ao portunhol, passando pelo "the book is on the table". Quando chegou a minha vez, vi que faltavam dois segundos para o encontro terminar. Dada a escassez de tempo, decidi começar pelo "A" de AIDA e chamar a atenção:
- Meu nome é Mario Persona, sou palestrante, escritor e consultor, e uso o YouTube para ganhar dinheiro.
Como eu previa, o burburinho foi geral. "Show us the money!", gritou alguém. Então, com toda a atenção cravada em mim, contei ao Chad Hurley e aos youtubers como ganho dinheiro com o YouTube.
Você é Jovem, Velho ou Dinossauro? Ignacio De Loyola Brandao Como cronista do jornal O Estado de S. Paulo, Ignácio de Loyola Brandão algumas vezes usou seu espaço para provocar o leitor, questionando-o sobre coisas do passado. Você chegou a tomar Grapette? Lembra do dropes Dulcora? Sua mãe usava cera Parquetina ou Dominó? Toda essa brincadeira com coisas do passado - distante para uns e próximas para outros - é o que nós habituamos a chamar de "cultura de almanaque". Cada vez que Loyola publicava sua coluna nesses moldes, recebia de amigos e de leitores uma infinidade de mensagens, lembrando fatos, jingles, imagens que dariam para montar tantas outras colunas com curiosidades e brincadeiras para mexer com a memória do leitor. Como é costume do autor, todo esse material foi guardado e transformado no Você é jovem, velho ou dinossauro?, livro que a Global Editora acaba de levar às livrarias e que traz uma programação visual bem parecida ao dos antigos almanaques, publicados, no Brasil, desde o início do século passado. O título do livro não engana: a proposta dos testes é saber se o leitor é jovem, velho ou dinossauro. O autor convida: "Descubra com este livro. Testes para saber se sua memória é uma coisa, mas suas lembranças podem ser outras, mostrando que você é mais jovem, mas também pode ser mais velho do que imagina". Ainda, segundo Loyola, "a memória tem mecanismos próprios e age segundo sua própria vontade. Lembro-me de uma coisa de uma maneira, você de outra, o terceiro de uma versão diferente. Pensamos que nos conhecemos, pensamos que temos certa idade. Este livro mostra que podemos ser mais jovens. Fatos que pareciam distantes estão perto". Você é jovem, velho ou dinossauro? é um almanaque de pequenas recordações guardadas no fundo da nossa memória e que, de repente, com muita alegria nos deparamos com elas. Daqui a algum tempo, a geração que está nascendo agora irá dizer que iPod, MP3, laptop, link, webcam, câmera digital, celular com internet, palmtop são coisas do passado e quando eles estiverem fazendo essa afirmação outros almanaques estarão aparecendo - ou não -, mas terão sempre a intenção dos almanaques de hoje que é de divertir e ter muito assunto para não deixar a conversa acabar. Editora: Global Autor: IGNACIO DE LOYOLA BRANDAO ISBN: 9788526012905 Origem: Nacional Ano: 2009 Edição: 1 Número de páginas: 176 Acabamento: Brochura Formato: Médio |
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Com a língua nos dentes
O êxodo de profissionais que saem do Brasil para viver e trabalhar no exterior não é coisa nova. Começou no regime militar, mas naquele tempo eles eram exilados ou deportados. Hoje são expatriados.
Ser expatriado é dar um passo no ar, pois não basta conhecer o idioma, as leis e o modo de vida do país destino. Há nuances culturais que podem se transformar em verdadeiras pedras no sapato, expressão que só fará sentido se a população do país não andar descalça ou de chinelos.
Veja, por exemplo, o politicamente incorreto. Passar a mão na cabeça de uma criança na Tailândia é ofensivo, e a menos que você tenha sido fechado no trânsito, nunca faça sinal de positivo com o polegar para cima na Austrália. Na China, não entre sambando se o salão estiver cheio de flores e pessoas vestidas de branco. Não é baile do Havaí. Branco é a cor do luto e deve haver um cadáver ali em algum lugar.
Não são apenas os brasileiros que sofrem no exterior. Um suíço que venha morar no Brasil vai encontrar a anfitriã de roupão e bobs no cabelo, se chegar para o jantar das 19:00 horas exatamente às 19:00 horas. E se participar de uma reunião de trabalho, vai perceber que reunião aqui começa quando todos chegam, e não na hora marcada. E termina quando todos saem.
Isso porque o tempo também possui significados diferentes em diferentes culturas. Os ditados populares deixam isso bem claro. Nos EUA “tempo é dinheiro”, na Espanha “aqueles que correm chegam primeiro à sepultura”, e na Etiópia “se você esperar tempo suficiente, até um ovo é capaz de andar”.
O hábito de dar presentes também difere de um país para outro. No Japão, é melhor não abrir o presente na frente de quem o deu, e nem esperar que o outro abra o que recebeu. Se receber um cartão de visitas no Japão, faça-o com ambas as mãos e fique segurando enquanto o seu interlocutor estiver ali. A regra não se aplica se você estiver dirigindo.
É provável que a maior dificuldade esteja no significado das palavras, algo que ocorre até nas diferentes regiões do Brasil. No interior de São Paulo dizemos que o vidro de um carro está “dando ar”, mas não tem nada a ver com o quebra-vento, e sim com o reflexo do sol que incomoda. Na minha região, qualquer balconista de loja de material elétrico lhe dará um plugue em formato de “T” se você pedir um “benjamim”. Em outras regiões é capaz de sair da loja acompanhado de um rapaz.
Se você for trabalhar em Portugal, é bom atualizar seu vocabulário, ou não vai entender quando ligar para alguém e ouvir: “Estou!”. Se a ligação vier abaixo, não é nenhuma calamidade, e se precisar ir à casa de banho não se esqueça de carregar o autoclismo. Você pode tomar um eléctrico, mas se decidir caminhar é melhor ter um penso no calcanhar. Só não pare na passadeira para ajeitar as peúgas, ou será mais um peão assustado com o travão do camião. Se sobreviver, coma uma sandes com um refrigerante fresco, mas antes peça à rapariga da lanchonete para tirar a cápsula.
Percebeu a dificuldade? Traduções também podem se transformar em armadilhas, principalmente quando palavras de idiomas diferentes forem parecidas. Quando jovem, mudei de casa e cidade tantas vezes que essa minha tendência nômade foi motivo de um comentário feito por um amigo suíço que deixou meu pai indignado. Usando o inglês para fazer a ponte para seu péssimo portunhol, meu amigo simplesmente traduziu do seu jeito a palavra “vagabond” e lascou:
- Seu filho é um vagabundo!
Veja, por exemplo, o politicamente incorreto. Passar a mão na cabeça de uma criança na Tailândia é ofensivo, e a menos que você tenha sido fechado no trânsito, nunca faça sinal de positivo com o polegar para cima na Austrália. Na China, não entre sambando se o salão estiver cheio de flores e pessoas vestidas de branco. Não é baile do Havaí. Branco é a cor do luto e deve haver um cadáver ali em algum lugar.
Não são apenas os brasileiros que sofrem no exterior. Um suíço que venha morar no Brasil vai encontrar a anfitriã de roupão e bobs no cabelo, se chegar para o jantar das 19:00 horas exatamente às 19:00 horas. E se participar de uma reunião de trabalho, vai perceber que reunião aqui começa quando todos chegam, e não na hora marcada. E termina quando todos saem.
Isso porque o tempo também possui significados diferentes em diferentes culturas. Os ditados populares deixam isso bem claro. Nos EUA “tempo é dinheiro”, na Espanha “aqueles que correm chegam primeiro à sepultura”, e na Etiópia “se você esperar tempo suficiente, até um ovo é capaz de andar”.
O hábito de dar presentes também difere de um país para outro. No Japão, é melhor não abrir o presente na frente de quem o deu, e nem esperar que o outro abra o que recebeu. Se receber um cartão de visitas no Japão, faça-o com ambas as mãos e fique segurando enquanto o seu interlocutor estiver ali. A regra não se aplica se você estiver dirigindo.
É provável que a maior dificuldade esteja no significado das palavras, algo que ocorre até nas diferentes regiões do Brasil. No interior de São Paulo dizemos que o vidro de um carro está “dando ar”, mas não tem nada a ver com o quebra-vento, e sim com o reflexo do sol que incomoda. Na minha região, qualquer balconista de loja de material elétrico lhe dará um plugue em formato de “T” se você pedir um “benjamim”. Em outras regiões é capaz de sair da loja acompanhado de um rapaz.
Se você for trabalhar em Portugal, é bom atualizar seu vocabulário, ou não vai entender quando ligar para alguém e ouvir: “Estou!”. Se a ligação vier abaixo, não é nenhuma calamidade, e se precisar ir à casa de banho não se esqueça de carregar o autoclismo. Você pode tomar um eléctrico, mas se decidir caminhar é melhor ter um penso no calcanhar. Só não pare na passadeira para ajeitar as peúgas, ou será mais um peão assustado com o travão do camião. Se sobreviver, coma uma sandes com um refrigerante fresco, mas antes peça à rapariga da lanchonete para tirar a cápsula.
Percebeu a dificuldade? Traduções também podem se transformar em armadilhas, principalmente quando palavras de idiomas diferentes forem parecidas. Quando jovem, mudei de casa e cidade tantas vezes que essa minha tendência nômade foi motivo de um comentário feito por um amigo suíço que deixou meu pai indignado. Usando o inglês para fazer a ponte para seu péssimo portunhol, meu amigo simplesmente traduziu do seu jeito a palavra “vagabond” e lascou:
- Seu filho é um vagabundo!
Expatriação de Executivos - Isabella F. Gouveia De Vasconcelos O livro Expatriação de Executivos apresenta a pesquisa em expatriação através de grandes correntes de pesquisa. A primeira trata de estratégia empresarial, mostrando como a expatriação pode ser um instrumento para desenvolvimento de competências fundamentais do grupo organizacional. A segunda corrente crítica, associada ao estudo do poder, mostra que os expatriados que melhor sabem negociar e reconstruir suas inserções políticas no país de destino têm sucesso na expatriação. A terceira corrente é ligada a estudos sociológicos e culturais dando ênfase a adaptação do expatriado à cultura do país de destino. Por fim, a quarta corrente trata do modelo transformacional de gestão de pessoas e fala dos processos afetivos ligados à expatriação, associando a pesquisa à análise em psicodinâmica organizacional. Editora: Cengage Learning Autor: LENI HIDALGO NUNES & ISABELLA F. GOUVEIA DE VASCONCELOS & JACQUES JAUSSAUD ISBN: 9788522106103 Origem: Nacional Ano: 2008 Edição: 1 Número de páginas: 134 Acabamento: Brochura Formato: Médio |
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O principio da dadiva no networking
Mario Persona conversa consigo mesmo sobre um assunto bem presente: a dádiva. Esse favor imerecido que nada teimosamente contra a corrente do instinto humano é abordado da perspectiva do networking e do relacionamento com o cliente.
P. Fala-se muito em gerar relacionamentos, não só com clientes mas com qualquer pessoa. Como criar um relacionamento?
Um relacionamento você cria com base no princípio da dádiva. Quando você dá algo a alguém, ou faz algo por essa pessoa, você dá o primeiro passo que promove um relacionamento. Mas essa dádiva não pode ser condicional.
P. A dádiva não gera algum tipo de angústia em quem recebe?
Em um certo sentido sim. A dádiva cria uma responsabilidade em quem recebe. É claro que a primeira coisa que a dádiva gera é gratidão, que nós expressamos com a palavra "obrigado", que é uma espécie de vínculo, de amarra, que se traduz como uma obrigação de reciprocidade.
P. Quer dizer então que essa história de networking, de criar relacionamentos apenas pela troca de cartões não funciona? Um cartão não passa de um papel sem valor.
Bem, a troca de cartões pode levar ao princípio da dádiva, mas veja que quando falamos de valor, isso não significa necessariamente preço. Uma coisa pode não ter custo algum, como um cartão, mas ter um valor tão grande que a torna sem preço, impagável. Um cartão recebido, por exemplo, de uma pessoa influente pode ser interpretado como uma dádiva por abrir portas. Geralmente as dádivas mais caras são as que não têm preço.
P. E o que pode agregar valor à dádiva?
A necessidade de quem recebe, seu interesse por aquilo, as circunstâncias, o momento... várias coisas podem ajudar a criar valor. É interessante, mas parece que o valor das melhores dádivas está na aura emocional que a envolve. Um papel de bala, por exemplo, é lixo, mas se tiver sido dado pelo namorado ele vale ouro. A garota vai guardá-lo para sempre.
P. Então a essência do networking e do marketing de relacionamento não está na troca de cartões?
Isso, a mera troca de cartões está cercada de interesses de ganho, e carrega uma mensagem do tipo "compre de mim", "estou de olho no seu dinheiro", "pague e eu farei algo por você". O verdadeiro relacionamento começa com a iniciativa de dar de forma desinteressada, não de receber.
P. Qual o papel da emoção nesse contexto?
O clima emocional é muito importante. O momento, o cenário, o estado emocional, tudo isso funciona como um adesivo na memória do receptor da dádiva. Se você quiser criar um relacionamento, seja ele afetivo ou de negócios, é preciso pensar como um diretor de cinema, que usa som, imagem e comunicação para causar uma impressão permanente no espectador.
A dádiva não termina no ato de dar. É necessário você obter o feedback disso, medir as reações, os sentimentos. Se você precisou botar sua empatia para trabalhar na hora de descobrir o que poderia ser interpretado como valor pelo outro, antes mesmo de oferecer sua dádiva, agora é hora de usar de empatia para medir os resultados. Tentar sentir o que o outro sentiu.
P. Que se resume em gratidão e desejo de reciprocidade, ou tem mais alguma coisa?
Tem sim, e é aí que a dádiva fica ainda mais interessante; é aí que começa o verdadeiro networking. O ato de dar ou fazer algo por alguém vai contra os nossos instintos de sobrevivência. Vai contra a lei do mais forte que subjuga o mais fraco tirando dele, não dando. Só que quando você percebe que pessoas generosas vivem mais de bem com a vida, e pessoas mesquinhas não, você quer descobrir que existe por trás da generosidade. Quando você é o beneficiário de uma dádiva, pode acabar contaminado pelo princípio da dádiva; vai querer descobrir o que é moveu a outra pessoa e acabará também fazendo algo por alguém para sentir o mesmo.
P. Então a dádiva pode gerar no benfeitor uma sensação de superioridade, de controle e poder sobre o beneficiado.
Sim, porque o rio sempre corre de cima para baixo. O próprio desejo de ajudar alguém pode brotar de uma necessidade de vanglória, de poder se gabar de ter ajudado essa ou aquela pessoa. Mas vamos nos concentrar nos resultados, e não nos motivos que levam a eles. É importante entender que a dádiva pode gerar uma reação em cadeia e criar na pessoa que recebe não apenas sentimento de dívida e reciprocidade, mas também de responsabilidade de fazer o mesmo por uma terceira pessoa.
P. Mas até aqui me parece mais uma cadeia linear de dádivas. Quando é que isso começa a funcionar como um networking, como uma rede de relacionamentos, e não de cima para baixo?
Quando aquele que é, digamos, o tataraneto do processo que você iniciou decide fazer de você o beneficiário de uma dádiva. Fechou o círculo. Agora você, que iniciou o processo da dádiva, passou a ser devedor de alguém, no sentido de sentir gratidão, não de ter de pagar, e se sentirá estimulado a ser novamente benfeitor de alguém, iniciando um novo ciclo, talvez em nova direção.
P. Em outras palavras eu fui vítima do meu próprio feitiço.
O verdadeiro networking funciona assim, sempre com alguém dando e alguém recebendo. Mas nem todos mantêm a corrente, e isso geralmente acontece naqueles elos que não entendem que a dádiva funciona como um bumerangue, é moeda circulante. É por isso que em tempos de crise os governos estimulam o crédito e pedem que as pessoas comprem. O represamento leva à estagnação.
P. Dê um exemplo prático do princípio da dádiva entre um fornecedor e um cliente.
Ok, digamos que você ouviu tudo isso e decidiu ligar hoje mesmo para uma empresa de brindes e encomendar uma porção de coisas com sua marca estampada nelas. Amanhã você aparece no cliente e despeja uma tonelada de brindes na mesa dele. Pode até funcionar, mas não é disso que estou falando. O princípio da dádiva não inclui brindes.
P. Não?! Mas não é dado?
Não é a mesma coisa; falta ao brinde aquele vínculo emocional que a verdadeira dádiva tem. Uma dádiva nem precisa ser algo tangível. Pode ser um favor ou um simples gesto. Pode ser conseguir a figurinha que faltava no álbum do filho de seu cliente. O brinde tem uma conotação comercial, tem uma marca colada nele, dá a impressão que você quer que seu cliente faça propaganda para você. A propriedade do brinde nunca é transferida totalmente para o cliente, porque sua marca continua lá.
P. Mas isso não faz ele se lembrar de mim na hora de comprar?
Pode fazer, mas não tem o poder da dádiva. Imagine que eu sou seu cliente e, ao invés de me dar uma caneta com a sua marca, você traz de suas férias em Recife um daqueles lápis baratos vendidos em feiras de artesanato, com a palavra "Recife" entalhada na madeira. Aí você me entrega o lápis e diz: "Estive em Recife e me lembrei de você".
O lápis não tem o seu nome, não tem a sua marca, não traz qualquer indicação de origem, mas eu nunca mais vou me esquecer de quem deu. Você não tinha obrigação de pensar em mim em suas férias e, se fez isso, fico constrangido a dar preferência a você na hora de decidir fechar um negócio. Fica a sensação de que eu lhe devo uma, e mesmo que eu faça algo em troca, um gesto assim cria uma dívida impossível de ser totalmente quitada. Se você me pedir qualquer coisa eu me sentirei constrangido a atender o seu pedido.
P. Até comprar rifa?
Até comprar rifa e rir de suas piadas.
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P. Fala-se muito em gerar relacionamentos, não só com clientes mas com qualquer pessoa. Como criar um relacionamento?
Um relacionamento você cria com base no princípio da dádiva. Quando você dá algo a alguém, ou faz algo por essa pessoa, você dá o primeiro passo que promove um relacionamento. Mas essa dádiva não pode ser condicional.
P. A dádiva não gera algum tipo de angústia em quem recebe?
Em um certo sentido sim. A dádiva cria uma responsabilidade em quem recebe. É claro que a primeira coisa que a dádiva gera é gratidão, que nós expressamos com a palavra "obrigado", que é uma espécie de vínculo, de amarra, que se traduz como uma obrigação de reciprocidade.
P. Quer dizer então que essa história de networking, de criar relacionamentos apenas pela troca de cartões não funciona? Um cartão não passa de um papel sem valor.
Bem, a troca de cartões pode levar ao princípio da dádiva, mas veja que quando falamos de valor, isso não significa necessariamente preço. Uma coisa pode não ter custo algum, como um cartão, mas ter um valor tão grande que a torna sem preço, impagável. Um cartão recebido, por exemplo, de uma pessoa influente pode ser interpretado como uma dádiva por abrir portas. Geralmente as dádivas mais caras são as que não têm preço.
P. E o que pode agregar valor à dádiva?
A necessidade de quem recebe, seu interesse por aquilo, as circunstâncias, o momento... várias coisas podem ajudar a criar valor. É interessante, mas parece que o valor das melhores dádivas está na aura emocional que a envolve. Um papel de bala, por exemplo, é lixo, mas se tiver sido dado pelo namorado ele vale ouro. A garota vai guardá-lo para sempre.
P. Então a essência do networking e do marketing de relacionamento não está na troca de cartões?
Isso, a mera troca de cartões está cercada de interesses de ganho, e carrega uma mensagem do tipo "compre de mim", "estou de olho no seu dinheiro", "pague e eu farei algo por você". O verdadeiro relacionamento começa com a iniciativa de dar de forma desinteressada, não de receber.
P. Qual o papel da emoção nesse contexto?
O clima emocional é muito importante. O momento, o cenário, o estado emocional, tudo isso funciona como um adesivo na memória do receptor da dádiva. Se você quiser criar um relacionamento, seja ele afetivo ou de negócios, é preciso pensar como um diretor de cinema, que usa som, imagem e comunicação para causar uma impressão permanente no espectador.
A dádiva não termina no ato de dar. É necessário você obter o feedback disso, medir as reações, os sentimentos. Se você precisou botar sua empatia para trabalhar na hora de descobrir o que poderia ser interpretado como valor pelo outro, antes mesmo de oferecer sua dádiva, agora é hora de usar de empatia para medir os resultados. Tentar sentir o que o outro sentiu.
P. Que se resume em gratidão e desejo de reciprocidade, ou tem mais alguma coisa?
Tem sim, e é aí que a dádiva fica ainda mais interessante; é aí que começa o verdadeiro networking. O ato de dar ou fazer algo por alguém vai contra os nossos instintos de sobrevivência. Vai contra a lei do mais forte que subjuga o mais fraco tirando dele, não dando. Só que quando você percebe que pessoas generosas vivem mais de bem com a vida, e pessoas mesquinhas não, você quer descobrir que existe por trás da generosidade. Quando você é o beneficiário de uma dádiva, pode acabar contaminado pelo princípio da dádiva; vai querer descobrir o que é moveu a outra pessoa e acabará também fazendo algo por alguém para sentir o mesmo.
P. Então a dádiva pode gerar no benfeitor uma sensação de superioridade, de controle e poder sobre o beneficiado.
Sim, porque o rio sempre corre de cima para baixo. O próprio desejo de ajudar alguém pode brotar de uma necessidade de vanglória, de poder se gabar de ter ajudado essa ou aquela pessoa. Mas vamos nos concentrar nos resultados, e não nos motivos que levam a eles. É importante entender que a dádiva pode gerar uma reação em cadeia e criar na pessoa que recebe não apenas sentimento de dívida e reciprocidade, mas também de responsabilidade de fazer o mesmo por uma terceira pessoa.
P. Mas até aqui me parece mais uma cadeia linear de dádivas. Quando é que isso começa a funcionar como um networking, como uma rede de relacionamentos, e não de cima para baixo?
Quando aquele que é, digamos, o tataraneto do processo que você iniciou decide fazer de você o beneficiário de uma dádiva. Fechou o círculo. Agora você, que iniciou o processo da dádiva, passou a ser devedor de alguém, no sentido de sentir gratidão, não de ter de pagar, e se sentirá estimulado a ser novamente benfeitor de alguém, iniciando um novo ciclo, talvez em nova direção.
P. Em outras palavras eu fui vítima do meu próprio feitiço.
O verdadeiro networking funciona assim, sempre com alguém dando e alguém recebendo. Mas nem todos mantêm a corrente, e isso geralmente acontece naqueles elos que não entendem que a dádiva funciona como um bumerangue, é moeda circulante. É por isso que em tempos de crise os governos estimulam o crédito e pedem que as pessoas comprem. O represamento leva à estagnação.
P. Dê um exemplo prático do princípio da dádiva entre um fornecedor e um cliente.
Ok, digamos que você ouviu tudo isso e decidiu ligar hoje mesmo para uma empresa de brindes e encomendar uma porção de coisas com sua marca estampada nelas. Amanhã você aparece no cliente e despeja uma tonelada de brindes na mesa dele. Pode até funcionar, mas não é disso que estou falando. O princípio da dádiva não inclui brindes.
P. Não?! Mas não é dado?
Não é a mesma coisa; falta ao brinde aquele vínculo emocional que a verdadeira dádiva tem. Uma dádiva nem precisa ser algo tangível. Pode ser um favor ou um simples gesto. Pode ser conseguir a figurinha que faltava no álbum do filho de seu cliente. O brinde tem uma conotação comercial, tem uma marca colada nele, dá a impressão que você quer que seu cliente faça propaganda para você. A propriedade do brinde nunca é transferida totalmente para o cliente, porque sua marca continua lá.
P. Mas isso não faz ele se lembrar de mim na hora de comprar?
Pode fazer, mas não tem o poder da dádiva. Imagine que eu sou seu cliente e, ao invés de me dar uma caneta com a sua marca, você traz de suas férias em Recife um daqueles lápis baratos vendidos em feiras de artesanato, com a palavra "Recife" entalhada na madeira. Aí você me entrega o lápis e diz: "Estive em Recife e me lembrei de você".
O lápis não tem o seu nome, não tem a sua marca, não traz qualquer indicação de origem, mas eu nunca mais vou me esquecer de quem deu. Você não tinha obrigação de pensar em mim em suas férias e, se fez isso, fico constrangido a dar preferência a você na hora de decidir fechar um negócio. Fica a sensação de que eu lhe devo uma, e mesmo que eu faça algo em troca, um gesto assim cria uma dívida impossível de ser totalmente quitada. Se você me pedir qualquer coisa eu me sentirei constrangido a atender o seu pedido.
P. Até comprar rifa?
Até comprar rifa e rir de suas piadas.
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O Espírito da Dádiva - Jacques T. Godbout Nem só o interesse, o desejo de poder e a coerção pública regem as relações entre as pessoas. Opondo-se à visão utilitarista dominante nas interpretações da história e do jogo social, este livro mostra que o espírito da dádiva não se manifesta só em ocasiões como o Natal, ou em brechas da moderna sociedade liberal, mas o tempo todo e em toda a parte: nas organizações, no mercado de arte, nas reuniões dos Alcóolicos Anônimos, nas doações de sangue e de órgãos. Na perspectiva deste livro, a dádiva, assim como o mercado e o Estado, forma um sistema de circulação de bens e prestação de serviços que serve, antes de mais nada, para criar vínculos sociais, e a sedução da dádiva tem tanto poder quanto a do ganho - portanto, é tão importante elucidar suas regras quanto conhecer as leis do mercado ou da burocracia para compreender a sociedade moderna. Nesta obra pluridisciplinar, a linguagem utilizada é clara e evita o ´calão´ dos especialistas. Alimentando com inquéritos sobre o "terreno originais", e por uma análise crítica aprofundada da literatura existente este livro, apaixonará o grande público que espera conhecer os mistérios da dádiva, e os investigadores em ciências sociais que, aqui, descobrirão estimulantes perspectivas. Editora: Instituto Piaget Autor: JACQUES T. GODBOUT ISBN: 9728329466 Origem: Importado Ano: 1997 Edição: 1 Número de páginas: 335 Acabamento: Brochura Formato: Médio |
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Premio e castigo
Saí da palestra e corri para o hotel. Eram seis da tarde e queria dormir para ter fôlego para a próxima, para o pessoal do turno da noite na mesma fábrica. Coloquei o celular para despertar às 23:00 e apaguei. Tocou às 20:00 horas.
A princípio achei que tinha errado, mas era uma chamada.
-- Alô? -- respondi sonolento.
-- O senhor foi contemplado com um celular gratuito e blá-blá-blá...
Indignado com a interrupção grunhi algo e voltei a dormir. Ou pelo menos tentei.
Promoções de telemarketing ocupam o segundo lugar em meu ranking de coisas que irritam. Em primeiro está o telefone, o próprio. Dependo dele, mas não gosto. Pareço antipático quando ligam e percebem que minha fala limita-se a "sim", "não", "tá" e mais dois grunhidos. Prefiro olho no olho, ao vivo e em cores.
Celular, então, não passa nem perto de minha lista de objetos de desejo. Câmera, MP3, som polifônico? Nem ligo. Sabe que som escolho? TRRRIIIIMMM! É para ter certeza de que é meu celular que toca e não uma rádio qualquer. Experimente tocar um pedacinho de axé em um aeroporto e pelo menos cem pessoas irão conferir seus celulares.
Mesmo assim, devo ter voltado bobo da viagem, ou com um baixo número de leucócitos antipromoções. Como um zumbi, caminhei até a loja para reclamar meu prêmio. Tinha fila. Voltei no dia seguinte. Fila. Decidi esperar, mas só até alguém começar a reclamar em voz alta. Decidi voltar para a fila do dia seguinte, o terceiro. Chegou minha vez.
Expliquei que queria um modelo que falasse em todo lugar. Não precisava fotografar, filmar ou tocar, só falar. Saí de lá com um celular novo que, descobri no dia seguinte, só atendia em dez estados brasileiros. Já pensou um palestrante com um celular assim?
Voltei à loja pela quarta vez, correndo o risco de pensarem que eu trabalhava ali. O atendente informou que eu não poderia devolver ou trocar. Impossível, sentenciou o gerente, dando as costas e sumindo nos bastidores. Bobo, supliquei que devolvessem a linha para meu velho celular e voltei para casa com a caixa do prêmio inútil debaixo do braço e o rabo entre as pernas.
Nem bem cheguei, lembrei-me de ter assinado um contrato que não permitia sair da operadora por doze meses. Senti-me um verdadeiro otário. Na semana anterior eu tinha um celular velho e nenhum compromisso. Agora eu tinha um celular velho e estava algemado à operadora. O novo, mudo, não era prêmio, era castigo.
Liguei para a operadora e na próxima hora e meia visitei todos os departamentos do "Tecle isso" e "Tecle aquilo" até encontrar um ser vivo. Mas foi só na quarta tentativa que encontrei vida inteligente.
-- É absurdo! -- indignou-se a atendente -- A loja precisa aceitar a devolução sim, é lei, está no código de defesa do consumidor!
Uau! Eu tinha encontrado alguém que não fora lobotomizado pelo Doutor Script. Voltei à loja. Quinta visita. Só queria devolver o aparelho e me livrar do contrato que assinei. Contei a história de novo e ouvi um rosário de argumentos.
-- O contrato já foi para a matriz... Só o gerente pode acessar o sistema... O gerente foi almoçar... Mesmo que estivesse aqui, ele errou a senha três vezes e bloqueou... Ninguém sabe quando a central vai desbloquear... O senhor não pode ligar aqui, não temos telefone...
Essa foi a gota d'água. Uma loja de telefones que não tem telefone? Sem tortura, consegui obter do atendente a informação de onde o gerente almoçava. Logo estava eu, no restaurante, ao lado de sua mesa, cheirando a queimado. Dois outros comiam com ele. Pela penúltima vez contei minha história. A última eu contaria em minha crônica. Afinal, daria uma história e tanto.
-- Como assim, é possível sim trocar por um aparelho com cobertura nacional. E se não tivermos em estoque vamos aceitar a devolução e fazer o cancelamento desse contrato.
Quem falava era o outro, que parecia ser gerente dos gerentes, uma espécie de instância superior para resolver as causas impossíveis. Prometeu ligar e ligou no mesmo dia. Minha sexta visita à loja foi para receber um celular que fala em todo o país. Assim espero.
Ontem o telefone tocou. Era o telemarketing de um banco avisando que fui escolhido entre os seis bilhões de habitantes do planeta para ganhar um cartão de crédito e blá-blá-blá...
-- Por gentileza, você pode ler a última linha do script que tem aí na sua frente? -- interrompi.
-- Agradecemos seu interesse e esperamos atendê-lo numa próxima oportunidade -- leu o atendente, obediente como um robozinho.
-- Também agradeço. Tenha um bom dia. -- desliguei.
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A princípio achei que tinha errado, mas era uma chamada.
-- Alô? -- respondi sonolento.
-- O senhor foi contemplado com um celular gratuito e blá-blá-blá...
Indignado com a interrupção grunhi algo e voltei a dormir. Ou pelo menos tentei.
Promoções de telemarketing ocupam o segundo lugar em meu ranking de coisas que irritam. Em primeiro está o telefone, o próprio. Dependo dele, mas não gosto. Pareço antipático quando ligam e percebem que minha fala limita-se a "sim", "não", "tá" e mais dois grunhidos. Prefiro olho no olho, ao vivo e em cores.
Celular, então, não passa nem perto de minha lista de objetos de desejo. Câmera, MP3, som polifônico? Nem ligo. Sabe que som escolho? TRRRIIIIMMM! É para ter certeza de que é meu celular que toca e não uma rádio qualquer. Experimente tocar um pedacinho de axé em um aeroporto e pelo menos cem pessoas irão conferir seus celulares.
Mesmo assim, devo ter voltado bobo da viagem, ou com um baixo número de leucócitos antipromoções. Como um zumbi, caminhei até a loja para reclamar meu prêmio. Tinha fila. Voltei no dia seguinte. Fila. Decidi esperar, mas só até alguém começar a reclamar em voz alta. Decidi voltar para a fila do dia seguinte, o terceiro. Chegou minha vez.
Expliquei que queria um modelo que falasse em todo lugar. Não precisava fotografar, filmar ou tocar, só falar. Saí de lá com um celular novo que, descobri no dia seguinte, só atendia em dez estados brasileiros. Já pensou um palestrante com um celular assim?
Voltei à loja pela quarta vez, correndo o risco de pensarem que eu trabalhava ali. O atendente informou que eu não poderia devolver ou trocar. Impossível, sentenciou o gerente, dando as costas e sumindo nos bastidores. Bobo, supliquei que devolvessem a linha para meu velho celular e voltei para casa com a caixa do prêmio inútil debaixo do braço e o rabo entre as pernas.
Nem bem cheguei, lembrei-me de ter assinado um contrato que não permitia sair da operadora por doze meses. Senti-me um verdadeiro otário. Na semana anterior eu tinha um celular velho e nenhum compromisso. Agora eu tinha um celular velho e estava algemado à operadora. O novo, mudo, não era prêmio, era castigo.
Liguei para a operadora e na próxima hora e meia visitei todos os departamentos do "Tecle isso" e "Tecle aquilo" até encontrar um ser vivo. Mas foi só na quarta tentativa que encontrei vida inteligente.
-- É absurdo! -- indignou-se a atendente -- A loja precisa aceitar a devolução sim, é lei, está no código de defesa do consumidor!
Uau! Eu tinha encontrado alguém que não fora lobotomizado pelo Doutor Script. Voltei à loja. Quinta visita. Só queria devolver o aparelho e me livrar do contrato que assinei. Contei a história de novo e ouvi um rosário de argumentos.
-- O contrato já foi para a matriz... Só o gerente pode acessar o sistema... O gerente foi almoçar... Mesmo que estivesse aqui, ele errou a senha três vezes e bloqueou... Ninguém sabe quando a central vai desbloquear... O senhor não pode ligar aqui, não temos telefone...
Essa foi a gota d'água. Uma loja de telefones que não tem telefone? Sem tortura, consegui obter do atendente a informação de onde o gerente almoçava. Logo estava eu, no restaurante, ao lado de sua mesa, cheirando a queimado. Dois outros comiam com ele. Pela penúltima vez contei minha história. A última eu contaria em minha crônica. Afinal, daria uma história e tanto.
-- Como assim, é possível sim trocar por um aparelho com cobertura nacional. E se não tivermos em estoque vamos aceitar a devolução e fazer o cancelamento desse contrato.
Quem falava era o outro, que parecia ser gerente dos gerentes, uma espécie de instância superior para resolver as causas impossíveis. Prometeu ligar e ligou no mesmo dia. Minha sexta visita à loja foi para receber um celular que fala em todo o país. Assim espero.
Ontem o telefone tocou. Era o telemarketing de um banco avisando que fui escolhido entre os seis bilhões de habitantes do planeta para ganhar um cartão de crédito e blá-blá-blá...
-- Por gentileza, você pode ler a última linha do script que tem aí na sua frente? -- interrompi.
-- Agradecemos seu interesse e esperamos atendê-lo numa próxima oportunidade -- leu o atendente, obediente como um robozinho.
-- Também agradeço. Tenha um bom dia. -- desliguei.
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Propaganda: Teoria - Técnica - Prática - Armando Sant'anna Desde o aparecimento de sua 1a. edição, este livro vem se constituindo no melhor e mais completo trabalho já publicado no campo da Propaganda, em nosso idioma, tornando-se leitura imprescindível para os estudantes dos cursos de Propaganda, e de consulta permanente para os profissionais de Propaganda, Relações Públicas e Marketing. Uma das razões do grande sucesso desta obra é a sua constante atualização, não só no que se refere aos dados estatísticos mas, sobretudo, no que diz respeito ao desenvolvimento, mudanças, técnicas e estratégias que caracterizam essa dinâmica atividade. |
O lado sombrio do marketing
Marketing existe há milhares de anos. Foi à sombra de uma árvore, ancestral das que produziriam o papel dos livros de Philip Kotler, que transcorreu a primeira ação de marketing da história. Num Éden exuberante, onde nada faltava, os mesmos princípios que regem o marketing moderno foram aplicados pela primeira vez. Quais?
Descobrir, analisar e atender desejos ou estimulá-los pressionando as teclas motivacionais do cérebro que levam à ação. Não, Maslow não estava lá e nem sua teoria motivacional tinha sido inventada. Mas as teclas estavam e geravam três desejos primários: dinheiro, prazer e prestígio. Uma vez pressionadas, a resposta veio rápida.
"E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela." Gênesis 3:6
Como acontece hoje com o dinheiro, a oferta prometia garantir o sustento - boa para se comer -, gerava prazer estético - agradável aos olhos - e supria necessidades intelectuais de auto-estima e realização - desejável para dar entendimento. O que aconteceu depois é história.
Quando vemos o marketing se transformar na coqueluche de todo estudante e profissional, é bom saber que quem tem o marketing tem a força, inclusive o seu lado sombrio. O hedônico cérebro de nosso cliente ainda traz as teclas de nossos edênicos ancestrais. Há dois mil anos elas eram reeditadas pela pena do apóstolo João, com outros nomes, mas com efeitos iguais:
"Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo." I João 2:16
O desejo ardente pelo sustento físico - a concupiscência da carne -, pelo prazer sensorial - a concupiscência dos olhos - e pelo prazer intelectual - a soberba da vida - continuam sendo as teclas. Basta apertá-las e nada segura o ser humano. Nosso cérebro é hedonista por natureza e o atendimento a essas "concupiscências" ou desejos extremos é prioridade zero em nossa lista.
Por isso a foto de um moribundo na embalagem do cigarro não impede que seu dono o acenda, nem a Aids consegue ser curada com injeção de propaganda de preservativo. A razão perde fácil para o desejo.
Existe uma quarta tecla que o marketing explora, a de que as três teclas podem ser desfrutadas para sempre. É a tecla que chuta a velhice e a morte para escanteio. Se depender daquilo que um médico amigo chama de "medicina pop", Juan Ponce de León não precisava ter se embrenhado em selvas peçonhentas atrás da fonte da juventude. Bastava ir até a banca da esquina.
As capas recorrentes querem fazer crer que a medicina e a genética têm a cura para todos os males. Bem, para muitos, inclusive para a doença do sono causada pela mosca tsé-tsé que assola milhares de africanos. Mas, neste caso, a substância que cura vai para a fabricação de cosméticos. Dá mais dinheiro eliminar pêlos em rostos femininos no primeiro mundo do que evitar a morte de africanos.
É claro que o marketing está embarcando na onda de uma longevidade cosmética, se esquecendo de que as cãs sempre foram símbolo de sabedoria em todas as culturas. Hoje são tingidas de cores variadas. Perdemos o respeito pelo envelhecer e agora idolatramos as passarelas do adolescer. Panacéias mil são anunciadas prometendo dar a cada homem e mulher a aparência de Lênin no sarcófago.
Mas nascer, crescer, envelhecer e morrer são fases de uma mesma vida que deve ser vivida com dignidade. Antes que nosso corpo vire adubo para garantir que animais, plantas e bactérias vivam. Principalmente bactérias.
Enquanto escrevo, milhões delas aguardam - todas salivando - querendo me ver pelas costas. Hoje engoli alguns de seus parentes, amanhã pode ser a vez delas. Viver é um processo teimoso e não importa o quanto de cosméticos a gente aplique no processo, até hoje sempre deu verme no placar.
É, véio, o que a gente precisa mais é aprender a envelhecer, e não achar que o grisalho tingido de caju, a tatuagem camuflada pelas pintas das mãos ou o piercing em flácidas pelancas fará de nós adolescentes outra vez. O mais importante é se preparar para o que vem depois.
Equilíbrio no envelhecimento é o caminho do meio. É claro que o marketing vai continuar trabalhando as teclinhas, pois fazem parte da urdidura da própria civilização. Vai continuar apontando rumos para minimizar o envelhecimento, melhorar a saúde, aumentar o bem-estar. Isso se for ético.
Porque o lado sombrio da força do marketing continuará a insistir em atropelar a ética e o bom senso na avidez pelo lucro imediato. Aos estudantes e profissionais que descobriram agora essa força e já apresentam sinais de embriaguez, fica aqui o meu alerta: Aprecie com moderação.
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Descobrir, analisar e atender desejos ou estimulá-los pressionando as teclas motivacionais do cérebro que levam à ação. Não, Maslow não estava lá e nem sua teoria motivacional tinha sido inventada. Mas as teclas estavam e geravam três desejos primários: dinheiro, prazer e prestígio. Uma vez pressionadas, a resposta veio rápida.
"E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela." Gênesis 3:6
Como acontece hoje com o dinheiro, a oferta prometia garantir o sustento - boa para se comer -, gerava prazer estético - agradável aos olhos - e supria necessidades intelectuais de auto-estima e realização - desejável para dar entendimento. O que aconteceu depois é história.
Quando vemos o marketing se transformar na coqueluche de todo estudante e profissional, é bom saber que quem tem o marketing tem a força, inclusive o seu lado sombrio. O hedônico cérebro de nosso cliente ainda traz as teclas de nossos edênicos ancestrais. Há dois mil anos elas eram reeditadas pela pena do apóstolo João, com outros nomes, mas com efeitos iguais:
"Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo." I João 2:16
O desejo ardente pelo sustento físico - a concupiscência da carne -, pelo prazer sensorial - a concupiscência dos olhos - e pelo prazer intelectual - a soberba da vida - continuam sendo as teclas. Basta apertá-las e nada segura o ser humano. Nosso cérebro é hedonista por natureza e o atendimento a essas "concupiscências" ou desejos extremos é prioridade zero em nossa lista.
Por isso a foto de um moribundo na embalagem do cigarro não impede que seu dono o acenda, nem a Aids consegue ser curada com injeção de propaganda de preservativo. A razão perde fácil para o desejo.
Existe uma quarta tecla que o marketing explora, a de que as três teclas podem ser desfrutadas para sempre. É a tecla que chuta a velhice e a morte para escanteio. Se depender daquilo que um médico amigo chama de "medicina pop", Juan Ponce de León não precisava ter se embrenhado em selvas peçonhentas atrás da fonte da juventude. Bastava ir até a banca da esquina.
As capas recorrentes querem fazer crer que a medicina e a genética têm a cura para todos os males. Bem, para muitos, inclusive para a doença do sono causada pela mosca tsé-tsé que assola milhares de africanos. Mas, neste caso, a substância que cura vai para a fabricação de cosméticos. Dá mais dinheiro eliminar pêlos em rostos femininos no primeiro mundo do que evitar a morte de africanos.
É claro que o marketing está embarcando na onda de uma longevidade cosmética, se esquecendo de que as cãs sempre foram símbolo de sabedoria em todas as culturas. Hoje são tingidas de cores variadas. Perdemos o respeito pelo envelhecer e agora idolatramos as passarelas do adolescer. Panacéias mil são anunciadas prometendo dar a cada homem e mulher a aparência de Lênin no sarcófago.
Mas nascer, crescer, envelhecer e morrer são fases de uma mesma vida que deve ser vivida com dignidade. Antes que nosso corpo vire adubo para garantir que animais, plantas e bactérias vivam. Principalmente bactérias.
Enquanto escrevo, milhões delas aguardam - todas salivando - querendo me ver pelas costas. Hoje engoli alguns de seus parentes, amanhã pode ser a vez delas. Viver é um processo teimoso e não importa o quanto de cosméticos a gente aplique no processo, até hoje sempre deu verme no placar.
É, véio, o que a gente precisa mais é aprender a envelhecer, e não achar que o grisalho tingido de caju, a tatuagem camuflada pelas pintas das mãos ou o piercing em flácidas pelancas fará de nós adolescentes outra vez. O mais importante é se preparar para o que vem depois.
Equilíbrio no envelhecimento é o caminho do meio. É claro que o marketing vai continuar trabalhando as teclinhas, pois fazem parte da urdidura da própria civilização. Vai continuar apontando rumos para minimizar o envelhecimento, melhorar a saúde, aumentar o bem-estar. Isso se for ético.
Porque o lado sombrio da força do marketing continuará a insistir em atropelar a ética e o bom senso na avidez pelo lucro imediato. Aos estudantes e profissionais que descobriram agora essa força e já apresentam sinais de embriaguez, fica aqui o meu alerta: Aprecie com moderação.
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Marketing: Criando Valor para os Clientes - GILBERT A. CHURCHILL JR. e J. P. PETER Para ser bem-sucedido e destacar-se no mundo do marketing, é necessário criar um valor superior para o cliente. Marketing: Criando Valor Para os Clientes é a única obra no Brasil a enfatizar e integrar a questão da criação de valor como a meta primária do marketing ao longo de todo o texto, apresentando o estado da arte da área. Captando as mudanças dinâmicas que vêm ocorrendo no marketing e no mundo, aborda de forma clara e concisa temas como o impacto da globalização, diversidade e ética no marketing. De autoria de dois dos mais conceituados e premiados autores em Marketing do mundo, é também o único livro brasileiro de marketing que tem as seguintes características: • completamente adaptado à nossa realidade: traz situações únicas ocorridas no mercado brasileiro, como a decisão da MTV brasileira de alterar o mix entre o rock e o axé e a guerra dos acarajés na Bahia; • ilustrado com propagandas de algumas das melhores agências de publicidade brasileiras e com tiras do Dorinho, o maior cartunista na área de marketing do país; • casos e exemplos surpreendentes e atuais, tanto de companhias de grande porte - multinacionais, ocorridos em países tão diversos quanto Rússia, China e Estados Unidos, e brasileiras -, como de pequenas e médias empresas; • projeto gráfico diferenciado: colorido, semi-couché e capa dura, por um preço incrivelmente competitivo. O material de apoio à obra é um dos mais ricos no Brasil: os professores cadastrados podem ter acesso a recursos pedagógicos inéditos na área como: • Manual do professor: com anotações de aula-padrão e suplementares, exercícios experimentais, perguntas/respostas para discussão, implicações do projeto de cada capítulo e sugestões para projetos adicionais, resumos dos quadros ("Na Prática", "Você Decide", "Agitadores de Marketing"), casos e minicasos adicionais e recursos externos recomendados; • Apresentações: centenas de slides eletrônicos, com figuras, esquemas e tabelas; • Banco de testes. Enfim, Marketing - Criando Valor para os Clientes é o livro brasileiro que mais cria valor, tanto para professores como para alunos e profissionais. (Extraído do site da editora) |
Conversa de telefone
— Alô, gostaria de falar com algum especialista do ensino.
— Sim, pode falar comigo.
— Seu nome?
— Máximo Escolástico Cursino.
— Ok, seu Máximo Esco... Xiii... já esqueci...
— Pode me chamar pelo apelido, Mec.
— Está bem, seu Mec, o assunto é o seguinte. Eu lecionava marketing para uma turma de Administração de Empresas e agora...
— Não vai poder mais lecionar. É isso?
— Puxa, você está por dentro mesmo, hein? É verdade o que estão dizendo por aí?
— É. Você não é administrador formado e registrado no conselho?
— Não, minha formação não é em administração. Arquitetura e urbanismo, tipo descobrir necessidades das pessoas e dos habitantes das cidades, criar ambientes, ter visão espacial, coisas assim... Mas minha atuação profissional é em marketing, faço palestras, leciono em MBA, tenho alguns livros publicados, artigos...
— Não importa. O que vale é ser administrador se quiser ensinar administrador em cursos de graduação. Cabe ao administrador exercer o magistério das matérias técnicas dos campos da administração nos cursos de graduação.
— Rapaz, você sabe de cor, hein? Todas as disciplinas?
— As profissionalizantes, relacionadas com as áreas específicas e que envolvam teorias da administração e das organizações e a administração de recursos humanos, mercadologia e marketing, materiais, produção e logística, administração financeira e orçamentária, sistemas de informações, planejamento estratégico e serviços.
— Entendi... isso ainda deixa espaço para muitas disciplinas, né? E se tiver experiência de mercado, puder trazer conhecimento de primeira mão de como é no mundo real...
— A norma é clara.
— É, a norma... Humm... Estava pensando em convidar alguns conhecidos para lecionar em meu lugar, mas não sei não...
— Quem são?
— Bem, tem o Peter, sabe qual é? O sobrenome é Drucker, que escreveu um montão de livros de administração, muitos deles usados nas faculdades.
— É administrador de empresas?
— Não, é advogado e estatístico.
— Não pode.
— Hummm... tenho outros aqui numa lista que peguei na Internet, não tenho certeza, mas acho que nenhum deles está qualificado para ensinar em nossas faculdades de administração. Seus livros são usados nas faculdades de administração...
— Sem diploma de administrador em uma instituição reconhecida, nada feito.
— Deixe-me ver... Antonio Hermírio é brasileiro, mas é engenheiro civil... outros grandes empresários que conheço, mas nenhum... pensei ainda no Bill Gates, mas nem faculdade tem.
— Sabe por que foi tomada essa decisão?
— Não, mas gostaria de saber.
— Para melhorar a qualidade do ensino nas faculdades de administração. Apenas administradores formados têm capacidade e competência para ensinar disciplinas que são críticas para a boa administração de uma empresa.
— Entendi... então o Bill não serve. Vou ter que pensar em outro.
— Você compreendeu bem a razão?
— Claro, se você diz que isso vai melhorar a qualidade dos profissionais que sairão de nossas faculdades, quem sou eu para contestar? Além disso reserva mercado de trabalho para administradores que não poderiam lecionar se o critério fosse apenas de experiência, né? Só estou pensando em quem poderia indicar para lecionar marketing em meu lugar... Acho que só resta eu indicar um ex-aluno meu. Pode ser?
— Pode, desde que seja graduado.
— Então está resolvido! Vou indicar um ex-aluno que acabou de se formar. Rapaz inteligente, comunicativo, gente boa.
— Tenho certeza de que ele tem muito a agregar para a melhoria do ensino.
— Certamente. Você está coberto de razão. Isso deve dar prestígio à profissão. E estou até pensando em voltar a lecionar daqui a algum tempo. Será que se eu prestar vestibular e cursar administração posso voltar a lecionar?
— Claro, nada impede, desde que tenha também o registro no conselho.
— Ótimo! Então é isso que vou fazer! Acho que consigo eliminar algumas disciplinas pelo curso que fiz quando estudei. Daqui a quatro anos eu... Êpa! Surgiu uma dúvida. Posso eliminar marketing, já que era eu o professor?
— Não, se não cursou a disciplina quando esteve na faculdade.
— Não, não cursei.
— Então vai precisar fazer a disciplina, como todos os alunos.
— Quer dizer que vou ser aluno de meu aluno e ele vai ser professor de seu professor? Quando eu tiver dúvidas na aula, devo perguntar para quem? Para ele ou para mim?
— Não entendi.
— É, acho que você não vai conseguir entender. A situação vai ser estranha e perigosa. Já pensou se meu aluno me reprova? Como poderia me considerar inapto, se o que sabe é o que ensinei a ele?
— Continuo sem entender...
— E nem esperaria que entendesse, estou pensando em voz alta e... hummm... acho que não, não vou cursar administração não.
— Por que?
— Porque não confio na qualidade do ensino. Veja bem, vou ser aluno de meu aluno para aprender o que ensinei a ele, não é?
— É.
— Que confiança posso ter no que vou aprender, se ele aprendeu com quem não tinha capacidade para ensinar? Vamos deixar assim. Vou continuar com minhas outras atividades. Obrigado pelas informações e pela paciência em ouvir.
— Não tem de quê.
— Até logo.
— Até logo.
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— Sim, pode falar comigo.
— Seu nome?
— Máximo Escolástico Cursino.
— Ok, seu Máximo Esco... Xiii... já esqueci...
— Pode me chamar pelo apelido, Mec.
— Está bem, seu Mec, o assunto é o seguinte. Eu lecionava marketing para uma turma de Administração de Empresas e agora...
— Não vai poder mais lecionar. É isso?
— Puxa, você está por dentro mesmo, hein? É verdade o que estão dizendo por aí?
— É. Você não é administrador formado e registrado no conselho?
— Não, minha formação não é em administração. Arquitetura e urbanismo, tipo descobrir necessidades das pessoas e dos habitantes das cidades, criar ambientes, ter visão espacial, coisas assim... Mas minha atuação profissional é em marketing, faço palestras, leciono em MBA, tenho alguns livros publicados, artigos...
— Não importa. O que vale é ser administrador se quiser ensinar administrador em cursos de graduação. Cabe ao administrador exercer o magistério das matérias técnicas dos campos da administração nos cursos de graduação.
— Rapaz, você sabe de cor, hein? Todas as disciplinas?
— As profissionalizantes, relacionadas com as áreas específicas e que envolvam teorias da administração e das organizações e a administração de recursos humanos, mercadologia e marketing, materiais, produção e logística, administração financeira e orçamentária, sistemas de informações, planejamento estratégico e serviços.
— Entendi... isso ainda deixa espaço para muitas disciplinas, né? E se tiver experiência de mercado, puder trazer conhecimento de primeira mão de como é no mundo real...
— A norma é clara.
— É, a norma... Humm... Estava pensando em convidar alguns conhecidos para lecionar em meu lugar, mas não sei não...
— Quem são?
— Bem, tem o Peter, sabe qual é? O sobrenome é Drucker, que escreveu um montão de livros de administração, muitos deles usados nas faculdades.
— É administrador de empresas?
— Não, é advogado e estatístico.
— Não pode.
— Hummm... tenho outros aqui numa lista que peguei na Internet, não tenho certeza, mas acho que nenhum deles está qualificado para ensinar em nossas faculdades de administração. Seus livros são usados nas faculdades de administração...
— Sem diploma de administrador em uma instituição reconhecida, nada feito.
— Deixe-me ver... Antonio Hermírio é brasileiro, mas é engenheiro civil... outros grandes empresários que conheço, mas nenhum... pensei ainda no Bill Gates, mas nem faculdade tem.
— Sabe por que foi tomada essa decisão?
— Não, mas gostaria de saber.
— Para melhorar a qualidade do ensino nas faculdades de administração. Apenas administradores formados têm capacidade e competência para ensinar disciplinas que são críticas para a boa administração de uma empresa.
— Entendi... então o Bill não serve. Vou ter que pensar em outro.
— Você compreendeu bem a razão?
— Claro, se você diz que isso vai melhorar a qualidade dos profissionais que sairão de nossas faculdades, quem sou eu para contestar? Além disso reserva mercado de trabalho para administradores que não poderiam lecionar se o critério fosse apenas de experiência, né? Só estou pensando em quem poderia indicar para lecionar marketing em meu lugar... Acho que só resta eu indicar um ex-aluno meu. Pode ser?
— Pode, desde que seja graduado.
— Então está resolvido! Vou indicar um ex-aluno que acabou de se formar. Rapaz inteligente, comunicativo, gente boa.
— Tenho certeza de que ele tem muito a agregar para a melhoria do ensino.
— Certamente. Você está coberto de razão. Isso deve dar prestígio à profissão. E estou até pensando em voltar a lecionar daqui a algum tempo. Será que se eu prestar vestibular e cursar administração posso voltar a lecionar?
— Claro, nada impede, desde que tenha também o registro no conselho.
— Ótimo! Então é isso que vou fazer! Acho que consigo eliminar algumas disciplinas pelo curso que fiz quando estudei. Daqui a quatro anos eu... Êpa! Surgiu uma dúvida. Posso eliminar marketing, já que era eu o professor?
— Não, se não cursou a disciplina quando esteve na faculdade.
— Não, não cursei.
— Então vai precisar fazer a disciplina, como todos os alunos.
— Quer dizer que vou ser aluno de meu aluno e ele vai ser professor de seu professor? Quando eu tiver dúvidas na aula, devo perguntar para quem? Para ele ou para mim?
— Não entendi.
— É, acho que você não vai conseguir entender. A situação vai ser estranha e perigosa. Já pensou se meu aluno me reprova? Como poderia me considerar inapto, se o que sabe é o que ensinei a ele?
— Continuo sem entender...
— E nem esperaria que entendesse, estou pensando em voz alta e... hummm... acho que não, não vou cursar administração não.
— Por que?
— Porque não confio na qualidade do ensino. Veja bem, vou ser aluno de meu aluno para aprender o que ensinei a ele, não é?
— É.
— Que confiança posso ter no que vou aprender, se ele aprendeu com quem não tinha capacidade para ensinar? Vamos deixar assim. Vou continuar com minhas outras atividades. Obrigado pelas informações e pela paciência em ouvir.
— Não tem de quê.
— Até logo.
— Até logo.
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Monge e o Executivo: uma História sobre a Essência da Liderança, O JAMES C. HUNTER Você está convidado a juntar-se a um grupo que durante uma semana vai estudar com um dos maiores especialistas em liderança dos Estados Unidos. Leonard Hoffman, um famoso empresário que abandonou sua brilhante carreira para se tornar monge em um mosteiro beneditino, é o personagem central desta envolvente história criada por James C. Hunter para ensinar de forma clara e agradável os princípios fundamentais dos verdadeiros líderes. Se você tem dificuldade em fazer com que sua equipe dê o melhor de si no trabalho e gostaria de se relacionar melhor com sua família e seus amigos, vai encontrar neste livro personagens, idéias e discussões que vão abrir um novo horizonte em sua forma de lidar com os outros. É impossível ler este livro sem sair transformado. O Monge e o Executivo é, sobretudo, uma lição sobre como se tornar uma pessoa melhor. |
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